Justiça suspende mais de 200 ações contra JBS por mau cheiro no bairro Nova Campo Grande

Decisão do juiz Flávio Saad Peron determina paralisação dos processos individuais movidos por moradores contra a JBS, até o julgamento da ação civil pública apresentada pelo Ministério Público de Mato Grosso do Sul.

Por Karol Peralta

O juiz Flávio Saad Peron, da Vara de Direitos Difusos, Coletivos e Individuais Homogêneos de Campo Grande, determinou a suspensão de mais de 200 ações individuais movidas por moradores do bairro Nova Campo Grande contra a JBS, que pedem indenização por conviverem há anos com o mau cheiro exalado pelo frigorífico localizado na região oeste da Capital.

Na decisão, proferida em 17 de outubro, o magistrado ressaltou que já tramita na Justiça uma ação civil pública movida pelo Ministério Público de Mato Grosso do Sul (MPMS) contra a gigante de alimentos pelo mesmo motivo. Segundo ele, há orientação do Superior Tribunal de Justiça (STJ) para suspender ações individuais enquanto a ação coletiva não for julgada.

“A Ação Civil Pública proposta pelo MP versa sobre a lide que gerou as ações individuais reunidas, nas quais os autores alegam que a planta industrial da ré, na Avenida Duque de Caxias, há tempos vem emitindo fumaça e intenso mau cheiro”, escreveu o juiz.

O magistrado determinou que os processos sejam arquivados temporariamente até que a Justiça se manifeste sobre o andamento da ação coletiva de número 0931427-06.2025.8.12.0001.


Moradores tentam acordo, mas JBS não apresentou proposta

Em agosto, a Justiça promoveu uma audiência de conciliação entre representantes da JBS e os mais de 200 moradores afetados. No entanto, a empresa não apresentou proposta para solucionar o problema em diálogo com a comunidade.

Os advogados da companhia alegaram que as ações ainda estão em fase inicial, com pendências de provas e perícias. Já os moradores afirmam que convivem com o mau cheiro há cerca de 15 anos, enfrentando desvalorização dos imóveis e danos morais pela convivência com o odor constante.


MP aponta descumprimento de medidas e pede fim do fedor

Após anos de investigações e TACs (Termos de Ajustamento de Conduta) não cumpridos, o Ministério Público de Mato Grosso do Sul decidiu ingressar com ação civil pública contra a JBS em 2025. A promotora Luz Marina Borges Maciel Pinheiro afirma que o frigorífico não adotou todas as medidas prometidas para eliminar o problema.

Entre as pendências destacadas pelo MP estão:

  • O plantio de árvores ao redor da planta industrial, prometido para reduzir o odor — a JBS diz que fez o plantio, mas que é preciso aguardar o crescimento das mudas;
  • A entrega de relatórios trimestrais sobre o funcionamento do sistema de exaustão de gases — documento que, segundo o MP, ainda não foi apresentado de forma completa.

A promotora defende que é inviável esperar anos para que as medidas surjam efeito e pediu à Justiça a inversão do ônus da prova, ou seja, que a JBS comprove que adotou providências eficazes para eliminar o mau cheiro.


Lucro bilionário e medidas insuficientes

Mesmo enfrentando críticas e ações judiciais, a JBS registrou lucro líquido de R$ 2,9 bilhões no primeiro trimestre de 2025. No processo, a empresa afirma que adotou todas as medidas possíveis para evitar a propagação de odores, como o fechamento de platibandas e o plantio de mudas em torno da unidade.

Contudo, o MP rebateu as alegações, destacando que nova vistoria realizada em maio constatou “cheiro intenso” na região, indicando que o problema persiste.

A empresa também não aceitou firmar novo TAC, e a ação civil pública segue em análise na Justiça estadual.

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