Ação é desdobramento da Operação Sem Desconto e investiga esquema que desviou R$ 6,3 bilhões de aposentados e pensionistas do INSS entre 2019 e 2024

Por Karol Peralta
A Polícia Federal (PF) deflagrou nesta sexta-feira (12) a Operação Cambota, um desdobramento da Operação Sem Desconto, que investiga um esquema nacional de descontos associativos não autorizados em aposentadorias e pensões.
De acordo com nota da corporação, estão sendo cumpridos dois mandados de prisão preventiva e 13 mandados de busca e apreensão, todos autorizados pelo Supremo Tribunal Federal (STF), nos estados de São Paulo e no Distrito Federal.
A operação investiga crimes de impedimento ou embaraço de investigação de organização criminosa, dilapidação e ocultação de patrimônio e possível obstrução das apurações.
Entenda o caso
Em abril, a PF e a Controladoria-Geral da União (CGU) deflagraram a Operação Sem Desconto, que revelou um esquema de descontos ilegais aplicados a beneficiários do INSS.
Segundo estimativas, entidades investigadas descontaram cerca de R$ 6,3 bilhões de aposentados e pensionistas entre 2019 e 2024. Na ocasião, mais de 200 mandados de busca e apreensão foram cumpridos, seis prisões temporárias decretadas e bens no valor de R$ 1 bilhão sequestrados.
As investigações apontam que associações e empresas aplicaram mensalidades indevidas diretamente nos benefícios previdenciários, causando prejuízo massivo a idosos e pensionistas.
Atuação da CPMI
Paralelamente, a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que apura o esquema aprovou, nesta quinta-feira (11), cerca de 400 pedidos de informações e de quebra de sigilos bancário, fiscal e telemático de investigados.
Entre os alvos estão os empresários Antonio Carlos Camilo Antunes, conhecido como Careca do INSS, e Maurício Camisoti, além do ex-presidente do INSS Alessandro Stefanutto.
Na semana passada, a comissão já havia aprovado pedidos de prisão preventiva contra Antunes, Camisoti, Stefanutto e outros 18 investigados.
Ressarcimentos aos aposentados
Até agosto, cerca de 1,6 milhão de aposentados e pensionistas que tiveram descontos ilegais já receberam R$ 1,084 bilhão em ressarcimentos.
Os pagamentos são possíveis graças a uma medida provisória assinada em julho, que liberou R$ 3,31 bilhões em crédito extraordinário para os acordos judiciais, fora do limite de gastos do novo arcabouço fiscal.
A Advocacia-Geral da União (AGU) também conseguiu na Justiça o bloqueio de R$ 2,8 bilhões em ativos de associações, pessoas físicas e empresas envolvidas. Os recursos obtidos com a venda desses bens devem financiar os ressarcimentos.
Os valores começaram a ser pagos em 24 de julho, em parcela única, com correção pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Cada beneficiário recebe diretamente na conta onde o pagamento do INSS é depositado.
O processo de adesão segue aberto e os beneficiários podem contestar os débitos até 14 de novembro de 2025.
Relevância da operação
A Operação Cambota reforça o cerco contra os responsáveis por uma das maiores fraudes previdenciárias já investigadas no Brasil. A expectativa é que novas fases sejam deflagradas para aprofundar a apuração sobre o destino dos recursos desviados e a responsabilidade de gestores públicos e privados envolvidos.