Audiência pública em Campo Grande debate logística, integração com a Rota Bioceânica e impacto econômico da ferrovia para o Estado e exportações brasileiras

Por Karol Peralta
A Audiência Pública promovida na manhã desta sexta-feira (15), pela Câmara Municipal de Campo Grande, foi apontada como um ponto de partida crucial para a recuperação da ferrovia Malha Oeste. A ferrovia é considerada estratégica para o desenvolvimento de Mato Grosso do Sul, otimização do escoamento da produção estadual e redução de custos logísticos, além de integrar o Brasil à Rota Bioceânica, ligando o País aos portos do Pacífico. O debate foi proposto pela vereadora Luiza Ribeiro.
O encontro reuniu vereadores, especialistas em logística e ferrovia, ministros, deputados federais e estaduais, secretários estaduais, representantes do Sindicato dos Trabalhadores em Empresas Ferroviárias de Bauru e Mato Grosso do Sul, além de vereadores do interior do Estado e de Bauru (SP). Um representante do Consulado da Bolívia também participou.
Para a vereadora Luiza Ribeiro, a audiência representa um avanço após decisão favorável do Tribunal de Contas da União sobre a reativação da ferrovia. “Foi um ponto de partida muito importante. Já saímos daqui com o compromisso de realizar um seminário envolvendo câmaras, prefeitos e vereadores de todo Mato Grosso do Sul e do interior de São Paulo, para fortalecer a reativação da Malha Oeste. É inaceitável deixá-la parada”, afirmou.
O presidente da Câmara, vereador Epaminondas Neto (Papy), destacou a importância do protagonismo da Casa nos debates que impactam a população, reforçando o papel fundamental da ferrovia para o desenvolvimento da Capital e do Estado.
O ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu, enfatizou a necessidade de integração com novos mercados, especialmente asiáticos, ressaltando o papel histórico da ferrovia no crescimento regional. “Temos que mobilizar todas as câmaras da Malha Oeste, ferroviários e cidadãos, mostrando a importância dessa integração”, pontuou.
A ferrovia Malha Oeste
A Malha Oeste, com 1.973 km, conecta Mairinque (SP) a Corumbá (MS). De acordo com a ANTT, a infraestrutura, incluindo a via permanente, encontra-se depreciada devido a investimentos insuficientes da concessionária atual, a Rumo, comprometendo sua capacidade de transporte. O Tribunal de Contas da União não aceitou a repactuação proposta, abrindo caminho para a relicitacão da ferrovia.
O ministro João Carlos Parkinson de Castro, coordenador nacional dos Corredores Rodoviário e Ferroviário Bioceânicos, alertou sobre a queda da utilização das ferrovias e a necessidade de integração com Bolívia, Argentina e Chile.
O deputado federal Vander Loubet reforçou que a reativação deve ocorrer em toda a ferrovia, sem divisão de trechos, para garantir a viabilidade de um corredor logístico completo no Centro-Oeste. O deputado estadual Zeca do PT também criticou a possibilidade de “fatiar” a ferrovia, destacando o potencial de utilização de todos os trechos.
Custos e viabilidade
Segundo o Sindicato dos Ferroviários da Noroeste do Brasil, atualmente apenas 70 km da ferrovia estão operacionais, com menos de 150 ferroviários atuando. O sindicato destacou que a manutenção da ferrovia parada gera custos elevados à sociedade, incluindo acidentes, poluição e aumento do preço dos produtos.
O ex-secretário de Política Nacional de Transportes, José Augusto Valente, afirmou que a ferrovia é um ativo estratégico subutilizado, enquanto representantes da Infra S.A. destacaram a viabilidade de reconstrução da Malha Oeste.
O engenheiro ferroviário Afonso Carneiro Filho apresentou a importância do corredor ferroviário bioceânico Brasil-Peru, conectando Atlântico e Pacífico, destacando que a integração pode reduzir em até dez dias o transporte para a Ásia e diminuir em 20% os custos logísticos. A inauguração do Porto de Chancay, no Peru, foi citada como estratégica para essa integração.
Impacto para Mato Grosso do Sul
O secretário estadual da Casa Civil, Eduardo Rocha, afirmou que o governo estadual acompanha de perto a discussão, destacando a expectativa de crescimento de 6% para o Estado, industrialização e pleno emprego, além do potencial com a Rota Bioceânica. Rocha informou que o governador Eduardo Riedel busca novos investimentos na Ásia e reforçou que a reativação da ferrovia envolve esforços do Governo Federal, Estadual e prefeituras.
Os investimentos previstos incluem grandes fábricas de celulose nas regiões de Três Lagoas, Ribas do Rio Pardo e Inocência, em construção, além da exportação de minério a partir de Corumbá.