Moradores relatam traumas e desafios após o tornado que devastou a cidade; ações federais já somam mais de R$ 50 milhões para recuperação e apoio social.

Por Karol Peralta
Um mês após o tornado que atingiu Rio Bonito do Iguaçu (PR), moradores ainda convivem com o trauma da destruição, enquanto o município tenta recuperar serviços, estruturas públicas e condições mínimas de rotina. Os relatos de quem enfrentou os ventos violentos se misturam ao esforço de reconstrução, que já mobiliza mais de R$ 50 milhões em ações federais.
A faxineira Rosalina Gonçalves Rodrigues, de 44 anos, revive o momento em que buscou abrigo com as três filhas e o neto de um ano. O estrondo que antecedeu o tornado foi o suficiente para que todos se amontoassem em um canto da casa. “Dizem que durou 40 segundos, mas parecia um ano”, relembra. A residência onde viviam não existe mais — virou um amontoado de escombros, lembrança da força de um evento climático extremo.
Apesar das perdas materiais, Rosalina tenta reconstruir a rotina. Os destroços já não arrancam lágrimas, mas revelam o tamanho do caminho até a retomada. O otimismo vem do apoio recebido desde o dia seguinte à tragédia. Segundo o Governo Federal, os investimentos iniciais envolveram planos emergenciais, limpeza urbana, ajuda humanitária e recuperação de estruturas essenciais como escolas, rodoviária e unidades culturais.

Somados, os auxílios passaram de R$ 50 milhões, conforme o coordenador federal na região, Josias Lesch. O montante inclui recursos do Ministério da Integração, do Desenvolvimento Regional e da Itaipu Binacional, além de equipes técnicas para mapeamento e reconstrução.
Outro ponto de atenção está no impacto psicológico. A presença do ForSUAS e da Força Nacional do SUS levou atendimento especializado para crianças e adultos que ainda sofrem gatilhos emocionais diante de chuvas, ventos ou mudanças de clima. “Minhas meninas choravam só de olhar para a casa destruída”, relata Rosalina, que recebeu acolhimento temporário em hotel da cidade.

Profissionais de saúde mental reforçam que o estresse pós-traumático não desaparece rapidamente. Há relatos de insônia, perda de apetite e medo constante de novos desastres — sinais típicos após episódios de grande devastação.
A assistência também inclui antecipação de benefícios sociais e trabalhistas, como Bolsa Família, FGTS, Seguro-Desemprego, BPC e ações do Cadastro Único, medida adotada em cidades em situação de emergência. A prioridade é garantir renda mínima às famílias que perderam tudo.
Na área de saúde, carretas do programa Agora Tem Especialistas foram estacionadas na cidade, oferecendo consultas e atendimentos emergenciais. Equipes atuaram desde o dia 7 de novembro em cuidados médicos, vacinação e suporte emocional.
A Defesa Civil Nacional também atua diretamente no município, auxiliando em mapeamentos, avaliação de danos e estratégias de reconstrução. O uso de imagens espaciais permitiu identificar áreas críticas e orientar equipes locais.
A participação de Itaipu Binacional complementa o quadro de apoio: técnicos visitaram residências, organizaram atendimentos e prepararam projetos de obras públicas. A empresa também ativou programas socioassistenciais e estruturas emergenciais para acolhimento dos desabrigados.
Na prefeitura, o desafio é reorganizar a cidade com os recursos e equipes disponíveis. O prefeito Sezar Bovino destaca a rápida articulação entre município, Estado e União para definir prioridades. “Planejamos juntos, e todos trabalharam para reconstruir”, afirmou.
Enquanto as ações se desenrolam, moradores como Rosalina tentam reconstruir não apenas as casas, mas também a segurança emocional. Ela sonha em erguer o quarto da filha mais velha e recuperar parte do que perdeu. “Acredito que vamos voltar rápido. Deus põe anjos no caminho”, diz.
A cidade, marcada pela destruição, agora tenta consolidar o que mais lhe falta: estabilidade — emocional, social e estrutural. A reconstrução será longa, mas segue movida por solidariedade, investimento público e a resiliência dos moradores.






