Sobretaxas de até 50% impactam produtos brasileiros e desaceleram importações; dados da Amcham Brasil mostram efeito do tarifaço sobre comércio bilateral.

Por Karol Peralta
As exportações brasileiras de produtos afetados pelo tarifaço americano registraram queda de 22,4% em agosto na comparação com o mesmo mês de 2024. Já as vendas de itens que não sofreram taxas adicionais recuaram 7,1%.
Os dados são do Monitor de Comércio Brasil-EUA, boletim elaborado pela Câmara Americana de Comércio para o Brasil (Amcham Brasil), entidade que representa mais de 3,5 mil empresas envolvidas no comércio bilateral. A análise foi baseada em informações do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), que já havia apontado retração de 18,5% nas exportações brasileiras para os Estados Unidos no mesmo período.
Segundo a Amcham, o tarifaço, que aplica taxas de até 50% sobre grande parte das exportações brasileiras, provocou uma queda expressiva nas vendas para os EUA e contribuiu para a desaceleração das importações de produtos americanos pelo Brasil. Já os produtos não taxados sofreram queda de 7,1%, influenciada por fatores de mercado, como menor demanda por petróleo e derivados.
Estados Unidos: segundo maior parceiro comercial
Os Estados Unidos são o segundo maior parceiro comercial do Brasil, atrás apenas da China. No acumulado de janeiro a agosto, o comércio bilateral atingiu US$ 56,6 bilhões, sendo que as exportações brasileiras somaram US$ 26,6 bilhões, alta de 1,6% em relação ao mesmo período de 2024.
Apesar do crescimento no acumulado anual, o resultado isolado de agosto representou a maior queda mensal de 2025, indicando que o tarifaço influenciou decisões empresariais, segundo a Amcham.
O tarifaço e suas exceções
O tarifaço foi estabelecido pelo governo de Donald Trump em 6 de agosto, com taxas de até 50% para cerca de um terço das exportações brasileiras para os EUA, enquanto aproximadamente 700 produtos foram excluídos, incluindo suco e polpa de laranja, combustíveis, minérios, fertilizantes, aeronaves civis, polpa de madeira, celulose, metais preciosos e produtos energéticos.
Trump alegou que os americanos possuem déficit comercial com o Brasil, embora números oficiais indiquem o contrário. O presidente também citou o tratamento dado pelo Brasil ao ex-presidente Jair Bolsonaro como justificativa política para as sobretaxas.
Déficit comercial e impacto nas importações
Os dados mostram que o déficit comercial brasileiro com os EUA atingiu US$ 1,2 bilhão em agosto, alta de 188% em relação ao mesmo mês de 2024. No acumulado de janeiro a agosto, o déficit soma R$ 3,4 bilhões.
O tarifaço também afeta importações brasileiras, especialmente em setores integrados à indústria americana, como carvão mineral, essencial para a siderurgia nacional. Apesar do crescimento de 4,6% nas importações em agosto, o ritmo desacelerou em relação a junho e julho, quando a expansão foi de 18,8% e 18,1%, respectivamente.
“A forte desaceleração no ritmo das importações brasileiras vindas dos EUA sinaliza um efeito indireto das tarifas, reflexo do alto grau de integração e de comércio intrafirma entre as duas maiores economias das Américas”, afirmou Abrão Neto, presidente da Amcham Brasil.
O tarifaço evidencia, segundo analistas, que medidas protecionistas podem gerar impacto imediato nas decisões empresariais e no equilíbrio do comércio bilateral entre Brasil e Estados Unidos.