Salário de profissionais de animação cai 12% em seis anos e expõe fragilidade do setor no Brasil

Estudo financiado pela Lei Paulo Gustavo revela que maioria dos animadores brasileiros trabalha como freelancer, enfrenta queda de renda e tem pouca inserção internacional.

Por Karol Peralta

Entre 2019 e 2025, o salário médio dos profissionais do mercado de animação no Brasil diminuiu 12,1%, caindo de R$ 7.980 para R$ 7.010. A maioria dos trabalhadores atua como freelancer, sem vínculos empregatícios ou direitos trabalhistas garantidos. O cenário foi revelado pelo 2º Mapeamento da Animação no Brasil, conduzido pelo Instituto Iniciativa Cultural, que aponta a urgência de investimentos federais para manter o setor ativo e competitivo.


Precarização e dependência de editais

O estudo, financiado pelo Ministério da Cultura por meio da Lei Paulo Gustavo e da Spcine, revela que a maior parte dos profissionais trabalha de forma independente ou em pequenas produtoras. A falta de estabilidade, combinada à escassez de oportunidades de exportação de conteúdo, tem levado muitos animadores a depender de editais e políticas públicas para manter seus projetos.

Segundo o levantamento, apenas 2% dos freelancers trabalham exclusivamente para empresas estrangeiras, enquanto 53% prestam serviços a companhias nacionais e internacionais, sendo que 69% dessa fatia têm a maior parte da renda proveniente do mercado brasileiro.


Profissionais experientes, mas pouco valorizados

A pesquisa também destaca que a maioria dos profissionais de animação tem carreiras longas, com 10 a 20 anos de experiência. Apesar da bagagem técnica e do domínio de ferramentas modernas, como inteligência artificial (IA) e animação digital 2D, muitos relatam falta de valorização e oportunidades no mercado interno.

Técnicas tradicionais, como o stop motion, perderam espaço: o uso caiu de 32% para 16% nos últimos seis anos. Já ferramentas digitais, como animação vetorial e cut-out, estão em ascensão.


Internacionalização ainda é desafio

A coordenadora da pesquisa, Alessandra Meleiro, afirma que o Brasil ainda tem uma presença tímida no cenário global. “Somente 2% dos profissionais atuam exclusivamente para o exterior. Falta participação em eventos internacionais, onde surgem as oportunidades de coprodução e networking”, destaca.

Entre os países que mais trocam serviços com o Brasil estão Estados Unidos, Argentina, França, Índia e Peru. Já o continente asiático, considerado “um gigante do audiovisual”, ainda é uma fronteira distante para os animadores brasileiros.


Falta de mão de obra qualificada

Para quem busca ingressar no setor, há vagas de difícil preenchimento em cargos estratégicos, como:

  • Animador e rigger – responsável por dar movimento a personagens em 3D;
  • Diretor de animação – coordena todas as etapas da produção;
  • Produtor executivo – busca patrocínio e recursos para viabilizar projetos.

Meleiro aponta que o potencial do Brasil ainda é pouco explorado, especialmente fora dos grandes centros. “Há descentralização crescente, com destaque para a região Sul, mas a ausência de profissionais em eventos internacionais impede o reconhecimento e a remuneração em dólar”, explica.

O mapeamento reforça a necessidade de políticas públicas contínuas e incentivos que fortaleçam a cadeia da animação nacional. Com profissionais qualificados, mas economicamente vulneráveis, o Brasil precisa superar barreiras estruturais para transformar talento criativo em sustentabilidade e visibilidade internacional.

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