Populações tradicionais alertam para impactos do mercado de carbono e a falta de participação nos debates sobre mudanças climáticas, enquanto Belém se prepara para a COP30

Por Karol Peralta
Ribeirinhos da região do Médio Rio Juruá, no Amazonas, enfrentam riscos de perder terras e modos de vida devido a contratos de créditos de carbono assinados sem compreensão plena dos termos. O alerta foi feito por Natália Nascimento, representante da Associação dos Moradores do Baixo Riozinho (Asmobri), durante o evento COP30 e os Conflitos do Clima, que debate impactos socioambientais da transição energética e mudanças climáticas.
“Imagine você assinar um contrato que você não entende e perder a sua terra por causa disso”, disse Natália Nascimento, representando a Asmobri. Ela explicou que a população local tem sido pressionada por empresas do mercado de carbono, ativo em crescimento que permite a empresas compensarem emissões poluentes investindo na preservação de territórios.
Segundo Nascimento, acordos desse tipo são frequentemente firmados sem que os ribeirinhos compreendam o que assinam, expondo-os a perdas de terra e impactos culturais. Em um caso recente, promessas feitas por empresas superavam sua capacidade de execução, afetando o modo de vida das comunidades. O Ministério Público Federal foi acionado, e a comunidade aguarda decisão judicial.
Exclusão das decisões climáticas
O debate também destacou que populações vulneráveis são excluídas dos espaços de decisão, incluindo a COP30, que será realizada em Belém em novembro. Alexandra Montgomery, diretora de Programas da Anistia Internacional Brasil, afirmou que moradores de favelas e comunidades urbanas — que representam 8,1% da população brasileira — são particularmente afetados.
“Quando se fala de mudanças climáticas e eventos extremos, boa parte dessas pessoas não participa ou não é ouvida nas discussões sobre as cidades”, disse Montgomery.
Impactos na cidade-sede
Guilherme Carvalho, educador popular da ONG Fase – Solidariedade e Educação, alertou para os efeitos da realização da COP30 em Belém, como aumento dos preços de aluguéis, encarecimento de serviços e gentrificação de territórios, afetando moradores locais. Ele destacou que, apesar de a cidade receber investimentos e visibilidade internacional, a população tradicional enfrenta desigualdade e racismo ambiental.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que a escolha de Belém visa mostrar a Amazônia ao mundo. “Não vai ser a COP do luxo, é a COP da verdade”, disse, destacando que os investimentos de R$ 6 bilhões na cidade deverão beneficiar a população após o evento.





