Durante discurso em Kuala Lumpur, presidente brasileiro reforçou a importância da cooperação entre Brasil e países asiáticos, defendeu o respeito à soberania das nações e apresentou iniciativas voltadas à transição energética e preservação florestal.

Por Karol Peralta
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu o multilateralismo, a cooperação internacional e o respeito à soberania das nações durante discurso na Cúpula da Ásia do Leste, realizada nesta segunda-feira (27) em Kuala Lumpur, capital da Malásia. O evento integra o quinto dia da missão oficial brasileira na Ásia e marcou a primeira participação de um chefe de Estado brasileiro na reunião de líderes do Sudeste Asiático.
Em sua fala de abertura na Cúpula da Ásia do Leste, Lula destacou o papel estratégico da Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN) na construção de uma nova ordem geoeconômica e geopolítica global, ressaltando que a centralidade do bloco é “um fator de equilíbrio nas transformações pelas quais o mundo atravessa”.
O presidente celebrou a adesão de Timor Leste ao grupo, chamando o país de “irmão do Brasil”, e defendeu o fortalecimento dos elos entre Brasil e nações asiáticas. “Somos países biodiversos, com culturas plurais e desafios comuns. Um mundo multipolar é mais propício à paz do que um planeta dividido por rivalidades estratégicas”, afirmou.
Lula também fez um apelo pela defesa da soberania nacional e pela valorização dos recursos estratégicos. “Os mares que nos circundam não podem se tornar palco de violações do direito internacional. Os minerais que possuímos não devem enriquecer outras nações às custas do nosso desenvolvimento”, disse.
Segundo o presidente, a distância geográfica entre a ASEAN e o Brasil não impede uma visão compartilhada de mundo. “A aproximação entre o Sudeste Asiático e o Brasil é crucial para a defesa do multilateralismo”, declarou.
Lula ressaltou ainda a sinergia entre a presidência da Malásia na ASEAN e as presidências do Brasil no G20 e no BRICS, pautadas pelos princípios de inclusividade e sustentabilidade. Ele afirmou que o BRICS é um instrumento de “governança global mais representativa”, criado para somar esforços e não para confrontar outras nações.
O chefe do Executivo destacou conquistas recentes do bloco, como o debate multilateral sobre inteligência artificial, o financiamento climático e a eliminação de doenças socialmente determinadas. “Lutar pela reforma das instituições multilaterais não nos impede de criar soluções próprias”, afirmou, citando o Novo Banco de Desenvolvimento (NDB) como alternativa às instituições de Bretton Woods.
Lula alertou para o risco de dependência econômica no Sul Global. “Alinhamentos automáticos e situações de dependência são armadilhas das quais precisamos escapar. Diversificar relações é sinônimo de autonomia”, disse, defendendo a aproximação entre ASEAN e Mercosul para fortalecer as cadeias produtivas das duas regiões.
Crise climática e COP30
Ao abordar a crise climática, Lula reafirmou o compromisso do Brasil com o Acordo de Paris e disse que a COP30, marcada para novembro de 2025 em Belém (PA), será “a COP da verdade”. “Sem o Acordo de Paris, perderemos nossa bússola. Cada grau adicional na temperatura média global representa perdas no PIB e empurra milhões de pessoas para a fome”, alertou.
O presidente também anunciou duas novas iniciativas brasileiras voltadas à transição energética:
- A Declaração para Quadruplicar o uso de Combustíveis Sustentáveis até 2035, que incentiva a substituição de combustíveis fósseis;
- O Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF), mecanismo de investimento para remunerar países que preservam suas florestas, incluindo regiões como Bornéu-Mekong, Congo e Amazônia.
“Os países da Ásia do Leste têm no Brasil um parceiro confiável e comprometido com a construção de um mundo mais inclusivo e sustentável”, concluiu.

Missão na Ásia e encontros bilaterais
A visita à Malásia marcou um novo capítulo nas relações bilaterais, com sete acordos assinados em áreas como tecnologia, ciência, semicondutores, inovação e agropecuária. Foi a primeira visita oficial de um presidente brasileiro ao país em 30 anos.
Durante a agenda, Lula recebeu o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Nacional da Malásia, em reconhecimento à sua atuação em prol da inclusão social e da cooperação internacional.
O presidente também se reuniu com os primeiros-ministros de Singapura e do Vietnã, além de participar da Reunião Empresarial Brasil-Malásia, onde defendeu o crescimento do comércio entre os países.
Em Kuala Lumpur, Lula teve um encontro com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para tratar das tarifas sobre exportações brasileiras. A conversa foi descrita como “franca e construtiva”, e ambos os líderes demonstraram interesse em aprofundar o diálogo econômico.
A missão na Ásia começou na Indonésia, onde foram firmados oito acordos bilaterais em áreas como energia, ciência e agricultura. Lula também participou de um fórum com mais de 100 empresários de ambos os países.






