Presidente Lula afirma que vai discutir com China e Índia as sanções americanas e reforça soberania do Brasil frente a medidas unilaterais de Trump

Por Karol Peralta
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou nesta quarta-feira (6) que pretende articular com os países do Brics, grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, além de outros países associados uma resposta conjunta às novas tarifas impostas pelos Estados Unidos às exportações brasileiras e de outras nações. Em entrevista à agência Reuters, Lula afirmou que vai entrar em contato com o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, e com o presidente da China, Xi Jinping.
“Vou tentar fazer uma discussão com eles sobre como cada um está dentro da situação, qual é a implicação que tem em cada país, para a gente poder tomar uma decisão”, declarou o presidente. Ele ressaltou que o Brics conta atualmente com dez integrantes no G20, o grupo que reúne as maiores economias do planeta, o que fortalece o peso político e econômico do bloco.
Nesta quarta-feira, entrou em vigor no Brasil uma tarifa de 50% sobre parte das exportações nacionais destinadas ao mercado norte-americano, em resposta a sanções anunciadas pelo presidente dos EUA, Donald Trump. Em paralelo, Trump também decretou uma tarifa adicional de 25% sobre produtos vindos da Índia, alegando que o país ainda importa petróleo da Rússia, direta ou indiretamente.
🇧🇷 Prioridade é proteger empregos e abrir novos mercados
Lula destacou que, neste momento, a prioridade do governo brasileiro é apoiar as empresas afetadas e proteger os empregos. Segundo o presidente, o Ministério da Fazenda deve enviar ainda hoje ao Palácio do Planalto o texto da medida provisória (MP) que estabelece ações de mitigação aos efeitos do tarifaço norte-americano.
“Estamos buscando novos mercados para os nossos produtos e alternativas para garantir a manutenção dos postos de trabalho. Essa é a nossa principal preocupação”, afirmou o presidente.
📞 Sem diálogo com Trump
O presidente Lula também deixou claro que não vê abertura para uma negociação direta com Donald Trump neste momento. “Eu não liguei porque ele não quer telefonema. Não tenho por que ligar para o presidente Trump, porque nas cartas que ele mandou e nas suas decisões ele não fala em nenhum momento em negociação, o que ele fala é em novas ameaças”, criticou Lula.
Mesmo assim, o presidente reforçou que sua postura é de buscar o diálogo e evitar escalada no conflito comercial: “Estou fazendo tudo isso quando poderia anunciar uma taxação dos produtos americanos. Não vou fazer porque não quero ter o mesmo comportamento do presidente Trump. Eu quero mostrar que, quando um não quer, dois não brigam, e eu não quero brigar com os Estados Unidos”.
🇧🇷 “Brasil é soberano e não aceita imposições”
Em tom firme, Lula afirmou que o Brasil recebeu a decisão dos EUA de forma “totalmente autoritária” e que isso fere os princípios de uma negociação diplomática. “Não é assim que estamos acostumados a negociar”, pontuou.
Ele também classificou como inaceitável a tentativa de intromissão dos Estados Unidos nos assuntos internos do Brasil. “Não é uma intromissão pequena. É o presidente da República dos Estados Unidos achando que pode ditar regras em um país soberano como o Brasil. Ele que cuide dos Estados Unidos, do Brasil cuidamos nós”, declarou.
Lula ainda foi enfático ao dizer que somente o povo brasileiro tem autoridade sobre os rumos do país: “Esse país tem um único dono, que é o povo. Só o povo elege e só o povo tira o presidente da República”.
🏛️ Regulação das big techs e autonomia legislativa
Durante a entrevista, Lula também reagiu às críticas feitas por Trump à legislação brasileira que trata da regulação das grandes empresas de tecnologia, as chamadas big techs. O presidente reforçou a autonomia do Brasil para criar e aplicar suas próprias leis.
“Esse país é soberano, tem uma Constituição, tem uma legislação. É nossa obrigação regular o que a gente quiser regular, de acordo com os interesses e a cultura do povo brasileiro. Se não quiser regulação, saia do Brasil”, disparou Lula.
🌐 Alinhamento internacional e próximos passos
Com a articulação junto aos líderes da China e da Índia, Lula espera fortalecer a posição brasileira no cenário internacional e adotar uma estratégia comum frente às políticas protecionistas dos EUA. O presidente aposta no peso econômico do Brics e na diplomacia como caminhos para evitar uma guerra comercial mais ampla.
Enquanto isso, o governo segue trabalhando para minimizar os impactos da medida americana sobre as exportações e empregos brasileiros.