Durante evento no Chile, presidente defende união de líderes mundiais contra o extremismo político e pede respeito à diversidade e aos direitos humanos

Por Karol Peralta
Durante reunião de alto nível realizada em Santiago, no Chile, nesta segunda-feira (21), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez um forte alerta sobre o avanço do extremismo político no mundo e afirmou que a democracia global vive um momento de ameaça semelhante ao período de ascensão do Partido Nazista na Alemanha, na década de 1930.
“Por que que nós estamos fazendo esse movimento? Porque a democracia corre risco com o extremismo como ocorreu na fundação do Partido Nazista, com a questão da ascensão do [Adolf] Hitler”, disse Lula a jornalistas, após o encontro promovido pelo presidente chileno Gabriel Boric.
A reunião, intitulada Democracia Sempre, contou com a presença de líderes como Gustavo Petro (Colômbia), Pedro Sánchez (Espanha) e Yamandú Orsi (Uruguai), além de representantes da sociedade civil, do meio acadêmico e de centros de pesquisa sobre políticas públicas.
Segundo Lula, a defesa da democracia deve estar acima de ideologias: “O que nós queremos é democracia, não importa que seja de direita, que seja de esquerda, que seja de centro. O que nós queremos é o exercício da democracia, com tolerância, com respeito à diversidade, com respeito ao pensamento ideológico, com respeito à cultura de cada país, a cada religião. É isso que eu quero para o Brasil”.
Declaração conjunta
Ao final do encontro, os líderes divulgaram uma declaração conjunta com compromissos e ações prioritárias. O documento, publicado pelo Itamaraty, destaca quatro eixos principais:
- Promoção de um multilateralismo inclusivo e participativo;
- Reforma do sistema de governança global;
- Fortalecimento de uma diplomacia democrática ativa, baseada em justiça social, direitos humanos e soberania;
- Reafirmação do compromisso com a paz, o direito internacional e os direitos humanitários.
Os participantes reforçaram a necessidade de ações concretas e urgentes para conter a escalada antidemocrática em diversas regiões do mundo, inclusive em países considerados consolidados democraticamente.
Tensão internacional e tarifas
Além dos debates sobre a democracia, Lula também comentou sobre a crescente tensão comercial entre o Brasil e os Estados Unidos, causada pelas medidas tarifárias adotadas pelo ex-presidente Donald Trump. Segundo Lula, ainda não há guerra tarifária, mas o Brasil poderá reagir se as condições impostas pelos EUA não forem revistas.
“Nós não estamos numa guerra tarifária. Guerra tarifária vai começar na hora que eu der a resposta ao Trump, se [ele] não mudar de opinião”, afirmou. Lula enfatizou que empresários dos dois países precisam dialogar para evitar prejuízos bilaterais. “Quem vai sofrer com isso são os próprios empresários.”
Histórico e próximos passos
O evento no Chile dá continuidade à iniciativa lançada em setembro de 2024, durante a 79ª Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova York, com o objetivo de unir lideranças globais na defesa da democracia e no combate ao extremismo.
Está prevista uma nova reunião em setembro deste ano, novamente em Nova York, no contexto da 80ª Assembleia Geral da ONU. Devem participar os líderes de México, Inglaterra, Canadá, Honduras, Austrália, África do Sul e Dinamarca.
A mobilização liderada por Lula e Sánchez busca criar uma frente internacional para garantir o fortalecimento das instituições democráticas, o combate à desinformação digital e a redução das desigualdades, temas que ganham cada vez mais centralidade nas relações multilaterais.