Pesquisa da Fiocruz analisa mais de 6,9 milhões de nascidos vivos e mostra que arboviroses durante a gestação elevam complicações maternas e riscos neonatais

Por Karol Peralta
As arboviroses — doenças transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti, como dengue, zika e chikungunya — representam uma crescente preocupação para a saúde materno-infantil no Brasil.
Um estudo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), publicado na revista Nature Communications, analisou mais de 6,9 milhões de nascidos vivos entre 2015 e 2020. A pesquisa revelou que a infecção por esses vírus durante a gestação está associada a maiores riscos de complicações no parto e problemas nos recém-nascidos, incluindo parto prematuro, baixo peso ao nascer e morte neonatal.
A pesquisa, conduzida pelo Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (Fiocruz Bahia), aponta que a infecção por arboviroses durante a gravidez eleva significativamente o risco de parto prematuro, baixo escore de Apgar e óbito neonatal.
Efeitos de cada vírus
A dengue foi associada a parto prematuro, baixo peso e alterações estruturais e funcionais no desenvolvimento fetal, chamadas de anomalias congênitas.
No caso da zika, os efeitos adversos foram ainda mais graves, com destaque para má-formação congênita, cujo risco foi mais que duplicado entre bebês de mães infectadas.
O pesquisador Thiago Cerqueira-Silva ressaltou que os padrões de risco variam conforme o vírus e o período da infecção, indicando que diferentes mecanismos biológicos atuam em cada trimestre da gestação.
“O estudo fornece evidências robustas de que chikungunya e dengue também têm consequências graves, como o aumento do risco de morte neonatal e anomalias congênitas. Essa informação é crucial para direcionar a atenção clínica e de saúde pública”, explicou.
Prevenção e políticas de saúde
Para Thiago, os resultados mostram a necessidade de fortalecer medidas de prevenção durante a gestação, protegendo tanto as mães quanto os bebês.
Em comunidades vulneráveis, a maior exposição ao mosquito aumenta o risco de infecção, e os efeitos durante a gravidez tendem a ser mais severos. Além disso, o impacto financeiro no cuidado de crianças com anomalias ou complicações neonatais recai de forma desigual sobre famílias de baixa renda.
O pesquisador defende a ampliação da cobertura vacinal contra dengue e a introdução da vacinação contra chikungunya na política nacional de imunização.
“É preciso garantir que as vacinas existentes sejam oferecidas gratuitamente e com ampla cobertura, independentemente da condição socioeconômica. Além disso, campanhas educativas devem informar sobre os riscos associados à dengue e chikungunya na gravidez, já que atualmente apenas os impactos da zika são amplamente divulgados”, concluiu.
O estudo reforça que todas as gestantes devem estar protegidas e alerta para a importância da vigilância constante e de políticas públicas que minimizem os riscos das arboviroses durante a gravidez.





