Comitiva da CNI reúne mais de 130 empresários em Washington para pressionar EUA a rever sobretaxas de 50% sobre produtos brasileiros.
Por Karol Peralta
Uma comitiva de industriais brasileiros, liderada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), está em Washington, nos Estados Unidos, articulando uma ação conjunta com empresários norte-americanos para pressionar o governo de Donald Trump a negociar o tarifaço imposto contra produtos do Brasil.
A missão, que ocorre nesta quarta (3) e quinta-feira (4), conta com aproximadamente 80 empresários brasileiros e 50 americanos, além de dirigentes de federações das indústrias de Minas Gerais (FIEMG), Paraná (FIEP), Paraíba (FIEPB), Rio de Janeiro (FIRJAN), Rio Grande do Norte (FIERN), Santa Catarina (FIESC), Goiás (FIEG) e São Paulo (FIESP).
Articulação empresarial
O presidente da FIEMG, Flávio Roscoe, destacou a importância da união de esforços.
“O setor industrial brasileiro articulou com parceiros americanos para que também pressionem o governo dos EUA em busca de um consenso para superar a crise. Estamos trabalhando juntos para que ambos os governos se sentem à mesa e encontrem uma saída para esse impasse”, afirmou.
Segundo Roscoe, o efeito imediato da missão é o fortalecimento da sinergia entre empresários e a construção de um trabalho conjunto que pode mobilizar forças políticas em ambos os países.
O presidente da FIEG, André Rocha, reforçou que a intenção é reduzir as tarifas ou ampliar a lista de exceções.
“Estamos tratando com a Câmara de Comércio Americana, a US Chamber, justamente para tentar reduzir as tarifas ou conseguir também uma nova lista de exceção”, explicou.
Combate a entraves políticos
De acordo com o presidente da CNI, Ricardo Alban, a missão busca estabelecer critérios técnicos e comerciais para negociação, mas também enfrentar obstáculos políticos.
“O que nós queremos aqui é garantir uma porta de diálogo e criar alternativas para superar possíveis equívocos de ordem política ou geopolítica”, declarou.
Tarifaço e interferência política
O tarifaço norte-americano foi anunciado como parte de um conjunto de medidas de Trump que, segundo analistas, possuem caráter político. Os EUA aplicaram tarifas de 50% sobre importações de produtos brasileiros, uma das maiores sobretaxas da guerra comercial promovida pelo atual governo.
Além disso, Trump assinou uma Ordem Executiva classificando o Brasil como “ameaça incomum e extraordinária” à segurança nacional dos EUA — patamar semelhante ao de países como Cuba, Venezuela e Irã.
O episódio tem relação direta com investigações em curso no Brasil sobre a tentativa de golpe de Estado em 8 de janeiro. O deputado licenciado Eduardo Bolsonaro, que vive nos EUA, teria atuado em defesa das sanções contra o país, motivo pelo qual é alvo de inquéritos da Polícia Federal e da Procuradoria-Geral da República (PGR).
Plano Brasil Soberano
Para mitigar os efeitos do tarifaço, o governo federal lançou no dia 13 o Plano Brasil Soberano, com medidas de apoio a empresas, exportadores e trabalhadores impactados.
Entre as ações, destacam-se:
- R$ 30 bilhões do Fundo Garantidor de Exportações para concessão de crédito acessível às empresas;
- R$ 4,5 bilhões em aportes para fundos garantidores;
- R$ 5 bilhões em crédito via Novo Reintegra.
As linhas de crédito priorizarão companhias mais afetadas, considerando dependência das exportações para os EUA, tipo de produto e porte da empresa. No caso das pequenas e médias, o acesso será facilitado por fundos garantidores, desde que haja manutenção dos empregos.
Com isso, governo, empresários e associações industriais buscam estratégias conjuntas para reduzir os impactos econômicos da disputa comercial e preservar a competitividade da indústria nacional.
