
Com queda puxada pela produção de veículos, setor industrial recua pelo segundo mês seguido; juros altos e crédito caro freiam consumo e investimentos
Por Karol Peralta
A produção da indústria brasileira recuou 0,5% em maio na comparação com abril, segundo dados divulgados nesta quarta-feira (2) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Este é o segundo mês consecutivo de retração, após a queda de 0,2% registrada em abril, sinalizando perda de fôlego no setor industrial.
Entre os principais fatores que explicam esse desempenho está a alta da taxa básica de juros (Selic), atualmente em 15% ao ano, o que encarece o crédito, desestimula o consumo e adia investimentos produtivos.
🚗 Setor automotivo lidera quedas
De acordo com a Pesquisa Industrial Mensal do IBGE, 13 das 25 atividades pesquisadas apresentaram queda em maio. O setor de veículos automotores, reboques e carrocerias teve a influência negativa mais expressiva, com retração de -3,9%.
Outros setores que contribuíram para o desempenho negativo:
- Coque, derivados de petróleo e biocombustíveis: -1,8%
- Produtos alimentícios: -0,8%
- Produtos de metal: -2,0%
- Bebidas: -1,8%
- Confecção de vestuário e acessórios: -1,7%
- Móveis: -2,6%
Na contramão, a indústria extrativa teve leve crescimento de 0,8%, amenizando parcialmente o recuo geral.
📊 Comparativo anual ainda é positivo
Apesar da retração mensal, a produção industrial de maio de 2025 foi 3,3% maior que a de maio de 2024, e o acumulado em 12 meses registra alta de 2,8%. O setor ainda opera 2,1% acima do nível pré-pandemia (fevereiro de 2020), mas segue 15% abaixo do pico histórico registrado em maio de 2011.
💰 Juros pesam sobre o crédito e consumo
Segundo o gerente da pesquisa do IBGE, André Macedo, os dois meses seguidos de queda refletem uma correção após o crescimento de 1,5% nos três primeiros meses do ano.
“É um cenário de devolução. E os juros altos têm papel central nesse movimento. Com o crédito mais caro, tanto famílias quanto empresas tendem a adiar decisões de consumo e investimento”, explica Macedo.
A política monetária adotada pelo Banco Central, com manutenção da Selic em patamares elevados, tem como objetivo conter a inflação, que acumula 5,32% em 12 meses, acima da meta estipulada (com tolerância até 4,5%). Contudo, essa estratégia gera desaceleração econômica em setores como a indústria.
🏭 Grandes categorias econômicas
Entre as quatro grandes categorias da indústria, três apresentaram queda na passagem de abril para maio:
- Bens de consumo duráveis: -2,9%
- Bens de capital: -2,1%
- Bens de consumo semi e não duráveis: -1%
- Bens intermediários: +0,1%
A maior queda foi entre os bens de consumo duráveis, como automóveis, eletrodomésticos e motocicletas — todos fortemente dependentes de crédito.
“Esses bens são mais sensíveis à taxa de juros. O cenário atual desestimula a compra desses produtos e, consequentemente, afeta a produção”, reforça Macedo.
A queda de 0,5% na produção industrial em maio reforça os efeitos negativos dos juros elevados na atividade econômica. Embora o setor mantenha crescimento em 12 meses, o sinal de alerta permanece aceso, especialmente em segmentos dependentes de crédito e sensíveis ao comportamento do consumidor.