Morador foi socorrido após tentar defender seu cachorro de uma onça nas proximidades do Mirante da Capivara; autoridades intensificam ações de prevenção e manejo dos felinos em áreas urbanas

Por Karol Peralta
A manhã de ontem, quinta-feira (07) começou com um chamado de emergência inusitado em Corumbá. Uma equipe do Corpo de Bombeiros foi acionada para socorrer Valdinei da Silva Pereira, de 57 anos, vítima de um ataque de onça-pintada nas proximidades do Mirante da Capivara, uma área de mata localizada na região urbana da cidade.
De acordo com os bombeiros, a vítima foi encontrada em uma área de barranco, próxima ao rio Paraguai, com ferimentos na testa, corte superficial no nariz, lesão no olho direito e dores intensas na região torácica. Valdinei relatou que o ataque ocorreu na noite anterior, quando tentou salvar seu cachorro das garras do felino. Na tentativa, acabou sendo derrubado e ferido. O cachorro foi levado pela onça.
Apesar da gravidade da situação, o homem não avisou sua família sobre o ocorrido. Somente na manhã do dia seguinte, vizinhos e parentes perceberam o estado da vítima e acionaram os bombeiros. Após os primeiros socorros, ele foi encaminhado ao Pronto-Socorro Municipal para atendimento médico.
Aumento de aparições preocupa autoridades
Esse ataque reacende o alerta para a crescente presença de onças-pintadas em áreas urbanas de Corumbá. Desde 24 de março deste ano, o Instituto Homem Pantaneiro (IHP) tem recebido diversos relatos da população e de autoridades locais sobre a presença do animal em regiões habitadas.
O primeiro registro foi feito na área da Cacimba da Saúde, no centro portuário da cidade. Desde então, houve avistamentos em pontos como o Parque Municipal Marina Gattass, a região da Agesa, a rodovia Ramão Gomes (próxima ao posto da PRF e da PMA), o Canal do Tamengo e, mais recentemente, no Mirante da Capivara — local do ataque registrado nesta semana.
Imagens de câmeras de segurança flagraram uma onça rondando uma residência no dia 23 de maio, sendo afugentada por cães ao tentar atacar uma cadela. Técnicos do IHP acreditam que ao menos dois felinos distintos estejam circulando pela região.
Ações de manejo e segurança
Em resposta aos avistamentos, a Prefeitura de Corumbá, por meio da Fundação de Meio Ambiente do Pantanal (FMAP), uniu esforços com o Ibama/Prevfogo, Polícia Militar Ambiental (PMA) e o próprio IHP para implementar um Plano de Ação Interinstitucional.
A medida inclui a coleta de relatos da comunidade, distribuição de orientações de segurança, intensificação da vigilância e instalação de repelentes luminosos em pontos críticos. Os equipamentos emitem luzes em quatro cores e sequências variadas, o que ajuda a afastar os felinos.
Segundo o biólogo Sérgio Barreto, do IHP, diversos fatores podem explicar o deslocamento das onças para áreas urbanas. “O aumento do nível do rio Paraguai neste ano, em comparação a 2024, gerou mais áreas inundadas no Pantanal. Isso pode forçar os animais a buscar áreas mais altas, como a cidade. Além disso, o descarte inadequado de alimentos em áreas urbanas pode atrair esses felinos”, explica.
Outro fator considerado é o impacto dos incêndios ocorridos em 2024, que podem ter provocado desequilíbrio nos territórios naturais da espécie, contribuindo para a aproximação dos animais às zonas urbanas.
Recomendações à população
O IHP reforça a importância de comunicar imediatamente às autoridades qualquer avistamento de animal silvestre. O contato pode ser feito pelos telefones (67) 3232-2469 ou (67) 99266-4052, informando local, data e horário do avistamento. Registros em foto ou vídeo também podem ajudar no monitoramento.
Além disso, o instituto divulga uma série de recomendações para quem vive ou circula por áreas próximas à vegetação:
- Nunca tente se aproximar ou tocar o animal, mesmo que pareça calmo;
- Evite circular sozinho em locais com presença de mata fechada ou relatos recentes;
- Em caso de encontro direto com a onça, mantenha contato visual e afaste-se lentamente sem virar as costas;
- Mantenha luzes externas acesas em áreas de risco;
- Jamais alimente animais silvestres ou descarte lixo orgânico em locais abertos;
- Denuncie práticas ilegais, como a oferta proposital de alimentos (“ceva”) para atrair animais, à Polícia Militar Ambiental.
O ataque desta semana marca um ponto de atenção na convivência entre a população e a fauna pantaneira. Autoridades reforçam que a prevenção e a informação são as principais ferramentas para garantir a segurança de todos — humanos e animais.