Levantamento do Instituto Sumaúma revela relação entre crises climáticas e violações de direitos humanos nos territórios quilombolas e denuncia o racismo ambiental como barreira ao financiamento climático justo

Por Karol Peralta
Uma pesquisa inédita do Instituto Sumaúma revelou que invasões e garimpo ilegal atingem quase 60% das comunidades quilombolas do Brasil. O estudo, divulgado nesta quinta-feira (13) durante a COP30, alerta para a sobreposição entre as mudanças climáticas e as violações de direitos humanos, que ameaçam a sobrevivência e os modos de vida dessas populações.
As invasões de terras e o garimpo ilegal afetam diretamente 59,8% das comunidades quilombolas brasileiras, segundo o estudo “Corpos-territórios quilombolas e o fio conectado da ancestralidade”, lançado nesta quinta-feira (13) pelo Instituto Sumaúma durante a 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP30).
A pesquisa destaca que 54,7% dos territórios quilombolas já enfrentam secas extremas e 43,4% relatam perdas de plantações, evidenciando como a crise climática se soma às violações de direitos territoriais e ambientais.
“Os dados provam o que as lideranças denunciam há décadas: o racismo ambiental define quem recebe investimento e quem tem seu território invadido”, afirma Taís Oliveira, diretora do Instituto Sumaúma.
Ela acrescenta que “não haverá justiça climática enquanto o financiamento climático não adotar lentes antirracistas”, destacando que os quilombos não são apenas vítimas, mas detentores de saberes ancestrais fundamentais para a preservação ambiental.
O levantamento revela ainda que 64,2% das lideranças quilombolas enfrentam dificuldades para captar recursos devido ao racismo estrutural e à falta de acesso a programas de filantropia e investimento social. A ausência de políticas públicas direcionadas também foi apontada como um entrave ao desenvolvimento sustentável dessas comunidades.
Os temas mais urgentes identificados pelas lideranças foram racismo (87%), políticas públicas (85%) e educação (77,4%).
Outro dado relevante é o protagonismo das mulheres e dos jovens quilombolas na comunicação e mobilização social: 58,5% dos comunicadores são mulheres e quase 70% têm entre 18 e 39 anos. Apesar do alto grau de escolaridade, 88% vivem com até cinco salários mínimos.
A pesquisa também denuncia a baixa infraestrutura digital nos territórios quilombolas — quase metade das comunidades enfrenta problemas de internet e sinal móvel. Ainda assim, 96% utilizam o celular diariamente e 87% recorrem às redes sociais como principal ferramenta de resistência e articulação política.
“Ainda existe uma imagem equivocada de que os quilombolas vivem isolados, e essa não é a realidade”, explica Juliane Sousa, quilombola, jornalista e pesquisadora convidada.
“Assim como outras populações, nós também temos acesso à internet, frequentamos faculdade e levamos uma vida como qualquer outra. A diferença está na nossa relação ancestral com a natureza”, completa.
O Instituto Sumaúma defende que os dados reforçam a urgência de políticas públicas antirracistas e financiamento climático inclusivo, reconhecendo o papel central das comunidades quilombolas na preservação dos biomas brasileiros e na construção de um futuro ambientalmente sustentável.





