Medida afeta produção em ao menos quatro plantas do estado; setor busca alternativas logísticas e novos mercados diante da taxação anunciada por Trump

Por Karol Peralta
Frigoríficos de Mato Grosso do Sul interromperam a produção de carne bovina destinada aos Estados Unidos após o governo norte-americano anunciar uma tarifa adicional de 50% sobre produtos brasileiros. A suspensão foi confirmada pelo governo estadual e pelo Sindicato das Indústrias de Frios, Carnes e Derivados de Mato Grosso do Sul (Sincadems).
A medida, segundo o sindicato, é estratégica e visa evitar o acúmulo de estoques de carne que se tornariam inviáveis comercialmente com a nova alíquota. A tarifa entra em vigor em 1º de agosto e afeta diretamente o segundo maior mercado comprador da carne sul-mato-grossense, atrás apenas da China.
“Se eu produzir e enviar carne hoje, a carga chegará aos EUA já com a tributação adicional. A taxação causou inviabilidade financeira para os produtores”, afirmou Alberto Sérgio Capucci, vice-presidente do Sincadems. Segundo ele, ao menos quatro frigoríficos suspenderam a produção para o mercado americano: JBS, Naturafrig, Minerva Foods e Agroindustrial Iguatemi.
A Naturafrig confirmou que cerca de 5% de sua produção era destinada aos EUA. Os demais frigoríficos ainda não se pronunciaram. Já a Associação Brasileira de Exportadores de Carne (Abiec) relatou que houve uma redução significativa no fluxo de produção voltada ao mercado norte-americano.
Em 2025, a carne bovina desossada e congelada liderou as exportações de Mato Grosso do Sul para os EUA, representando 45,2% do total e movimentando mais de US$ 142 milhões, segundo dados da Federação das Indústrias do Estado (Fiems). Em 2024, esse percentual foi de 27,8%, com receita de aproximadamente US$ 78 milhões.
O secretário estadual de Desenvolvimento Econômico, Jaime Verruck, confirmou a suspensão dos abates destinados aos EUA e alertou para o impacto logístico. “Há um volume de carne estocada que não tem mais tempo de chegar ao mercado americano antes da taxação. Os frigoríficos estão ajustando as escalas e tentando redirecionar essa produção”, explicou.
Verruck citou Chile e Egito como potenciais destinos alternativos para a carne que seria enviada aos EUA. Analistas avaliam que o mercado asiático também tende a ser mais explorado. “A tendência é que o setor busque compensações via China, Vietnã e Oriente Médio”, apontou Fernando Henrique Iglesias, do Safras & Mercados.
Embora os EUA não sejam o principal destino da carne bovina brasileira — posição ocupada pela China, com 48% do volume —, respondem por cerca de 12% das exportações totais do país. O impacto da tarifa, portanto, é significativo.
Iglesias lembra ainda que os frigoríficos devem evitar redirecionar essa carne ao mercado interno, para não provocar desequilíbrio de preços. “A ideia é encontrar novos mercados. Felizmente, o Brasil exporta para mais de 100 países”, afirmou.
A Abiec, em nota, afirmou que a paralisação das exportações é temporária e está sendo acompanhada por articulações junto ao setor privado e ao governo. “O redirecionamento ocorre para países com os quais já mantemos comércio. Obviamente, China, Sudeste Asiático e Oriente Médio são os destinos mais evidentes. Estamos atentos e buscando intermediação com importadores para mitigar os prejuízos”, diz o comunicado.
Além da carne, outros setores do agronegócio brasileiro também foram afetados pela nova política tarifária dos EUA. Exportadores de mel, laranja e celulose registram impacto direto com a decisão.