Vítima relatou ter sido ameaçada de mutilação por sequestradores que exigiam dinheiro e acreditava que o pai, foragido e condenado a 126 anos, poderia estar envolvido no crime.

Por Karol Peralta
A filha do narcotraficante foragido Gérson Palermo, sequestrada na sexta-feira (24) em Campo Grande, relatou à polícia ter sido torturada e ameaçada de mutilação durante o período em que ficou em cativeiro. Segundo seu depoimento, os sequestradores afirmaram que “cortariam sua língua e sua orelha” caso o marido não entregasse uma quantia em dinheiro.
Vítima conta ter sido mantida amarrada e agredida
As informações foram divulgadas pelo delegado Roberto Guimarães, da Delegacia Especializada de Repressão a Roubos a Banco, Assaltos e Sequestros (Garras), durante coletiva de imprensa nesta segunda-feira (27). Conforme o delegado, a vítima contou que foi abordada ao sair do trabalho, no centro de Campo Grande, e obrigada a entrar em um carro.
Com a cabeça baixa durante o trajeto, foi levada até uma casa no bairro Moreninhas, onde permaneceu amarrada e sofreu coronhadas e chutes.
A jovem disse não saber de que dinheiro se tratava e negou qualquer envolvimento. “Ela relatou que os criminosos falavam em valores entre R$ 50 mil e R$ 1 milhão, mas a Polícia Civil ainda não tem confirmação sobre isso”, afirmou o delegado.
Fotos do cativeiro e ameaças ao marido
Durante o sequestro, os criminosos enviaram fotos da vítima amarrada para o marido, exigindo pagamento do resgate. A mulher afirmou acreditar que só foi libertada porque o pai, Gérson Palermo, teria pedido que a poupassem — mesmo suspeitando que ele fosse o mandante do crime.
O caso chegou ao Garras na noite de sexta-feira, quando o marido procurou a delegacia relatando o sequestro. “Inicialmente houve desconfiança porque esse tipo de crime é muito raro hoje em Mato Grosso do Sul. Mas, quando ele apresentou as fotos, ficou claro que se tratava de um caso real”, disse Guimarães.
Após o início das diligências, por volta da 1h de sábado, o marido recebeu mensagem informando que a mulher havia sido libertada. Ela foi encontrada em uma estrada de terra nos fundos do bairro Moreninhas e levada à delegacia.
Cativeiro confirmado e suspeito preso
Com base nas informações da vítima, os investigadores localizaram o cativeiro, uma casa simples e sem móveis, também nas Moreninhas. O imóvel estava no nome de Reinaldo Silva de Farias, de 34 anos, que possui histórico criminal e foi preso em flagrante.
Na residência, foram apreendidas duas espingardas, uma motosserra, uma roçadeira e o celular usado para as mensagens de resgate, que tocou quando os policiais ligaram para o número.
A perícia confirmou que o imóvel era o local onde a mulher permaneceu presa. O suspeito confessou participação indireta, alegando que apenas intermediou o contato entre os sequestradores. Ele teve a prisão convertida em preventiva após audiência de custódia.
Gérson Palermo segue foragido
De acordo com as investigações, Gérson Palermo, condenado a 126 anos de prisão e foragido há cinco anos, teria orquestrado o sequestro à distância. Ele teria ligado para o avô materno da vítima, afirmando que “nada aconteceria à filha se devolvessem o dinheiro”. Em outra ligação, teria ameaçado dizendo que “todos iriam morrer por causa desse dinheiro”.
Apesar das suspeitas, o delegado afirmou que ainda não há provas concretas do envolvimento direto de Palermo ou da mãe da jovem, mas ambos são investigados.
“Trabalhamos com várias linhas de investigação. Há indícios de extorsão mediante sequestro, e o relato da vítima é compatível com o que foi encontrado no local”, explicou Guimarães.
Investigação em andamento
O delegado pediu cautela à imprensa, reforçando que a vítima está traumatizada e que a apuração é complexa. “As evidências já foram suficientes para manter a prisão preventiva, mas ainda há muito a ser esclarecido”, concluiu.
A Polícia Civil de Mato Grosso do Sul segue investigando o caso para identificar os demais envolvidos e confirmar o papel de Gérson Palermo, que, segundo a vítima, vive atualmente na Bolívia e continua comandando crimes mesmo foragido.





