Apesar da leve queda na inadimplência, o uso do cartão de crédito e o comprometimento prolongado da renda mantêm o endividamento em nível elevado na capital sul-mato-grossense.

Por Karol Peralta
O endividamento das famílias em Campo Grande se manteve em nível elevado em outubro de 2025, atingindo 65,4% dos lares, segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC), divulgada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). O índice é praticamente estável em relação a setembro (65,2%), mas aponta uma tendência de persistência das dívidas entre os consumidores da capital.
A estabilidade do endividamento em Campo Grande reforça um cenário de pressão financeira sobre as famílias, especialmente as de menor renda. De acordo com a pesquisa, 68,9% das famílias que ganham até 10 salários mínimos estão comprometidas com algum tipo de dívida, enquanto entre as de renda superior o percentual é de 48%.
Os principais tipos de débitos continuam sendo cartões de crédito, carnês de lojas, financiamentos de casa e carro e empréstimos pessoais. O tempo médio de comprometimento com as dívidas chega a 36 semanas, o que indica um endividamento prolongado e de difícil reversão.
“É importante observar que o indicador de inadimplência, que reflete a incapacidade de saldar essas dívidas, recuou. Em outubro, 29,4% dos entrevistados informaram que estão endividados e com contas em atraso, frente a 30,1% em setembro”, explica Regiane Dedé de Oliveira, economista do Instituto de Pesquisa da Fecomércio MS (IPF-MS).
Mesmo com a queda leve na inadimplência, o levantamento mostra que 13,6% dos entrevistados afirmam não ter condições de pagar as dívidas vencidas, e 47,7% das contas atrasadas estão vencidas há mais de 90 dias — com tempo médio de atraso de 69 dias.
💳 Cartão de crédito é o principal vilão
O cartão de crédito continua sendo o maior responsável pelo endividamento, aparecendo em 68% das famílias entrevistadas. Em seguida vêm os carnês de lojas (19,3%), o financiamento de casa (11,8%), o financiamento de carro (11,6%) e o crédito pessoal (9,9%).
O uso do cartão como forma de parcelamento e os juros elevados fazem com que muitas famílias percam o controle financeiro, acumulando dívidas de longo prazo e dificultando a quitação das faturas.
⏳ Comprometimento prolongado da renda
A PEIC aponta que 35% das famílias estão comprometidas com dívidas há mais de um ano, e 10,2% destinam mais da metade da renda apenas para quitar débitos. Em média, 28,7% da renda mensal dos campo-grandenses está comprometida com pagamentos de parcelas e financiamentos.
Essa situação reduz a capacidade de consumo e aumenta o risco de novas inadimplências, principalmente entre as famílias que dependem do crédito para manter o consumo básico.
📉 Impactos na economia local
A persistência do endividamento tem reflexos diretos na economia de Campo Grande. Com mais famílias comprometendo boa parte da renda em dívidas, há redução no consumo, o que afeta o comércio e o setor de serviços.
Segundo a CNC, esse cenário cria um ciclo de fragilidade econômica, onde o alto custo de vida e as taxas de juros elevadas mantêm as famílias em situação de vulnerabilidade financeira, mesmo quando os índices de inadimplência aparentam estabilidade.
“O resultado mostra que as famílias continuam pressionadas. A renda não avança no mesmo ritmo que o custo de vida, e isso mantém o endividamento alto, mesmo sem grandes variações mensais”, avalia Regiane Dedé de Oliveira.
A estabilidade do endividamento em Campo Grande, aliada à leve melhora nos índices de inadimplência, revela uma resiliência momentânea, mas não uma recuperação efetiva das finanças das famílias. A dependência do crédito e os longos prazos de pagamento ainda configuram um desafio para o equilíbrio econômico local.





