Parlamentar afirma que ataques misóginos têm aumentado em ano pré-eleitoral e cobra investigação rigorosa das autoridades

Por Karol Peralta
A deputada Gleice Jane (PT) utilizou o grande expediente da Assembleia Legislativa nesta terça-feira (9) para denunciar que recebeu, no último domingo, mensagens de ódio acompanhadas de uma ameaça explícita de morte. Segundo ela, o episódio não é isolado e integra um cenário crescente de misoginia direcionada a mulheres em atuação política.
“Não é normal naturalizarmos a misoginia e o ódio na política. Precisamos construir espaços seguros dentro da democracia, para opinar sem medo, mesmo diante das divergências”, afirmou a parlamentar. Ela relatou que ficou paralisada ao ver o teor das mensagens, mas foi orientada a registrar boletim de ocorrência e tornar o caso público, ressaltando que o ataque também impacta outras mulheres interessadas em ingressar na vida política.
Gleice destacou que 2025 é um ano pré-eleitoral, o que intensifica o risco de ataques e intimida a participação feminina. “Se as mulheres não se sentirem seguras, não se candidatarão. Não podemos normalizar a violência política”, disse. A deputada também reforçou a necessidade de políticas públicas voltadas à prevenção da violência de gênero, especialmente em ambientes escolares.
A parlamentar informou que procurou a Polícia Federal e cobra investigação rigorosa. “Não porque sou deputada, mas porque esse é um crime que tenta minar a presença e a voz das mulheres”, afirmou, lembrando que ocupar espaços institucionais ainda gera resistência.
O discurso também mencionou o contexto nacional. No domingo (7), atos pelo fim do feminicídio reuniram milhares de pessoas em várias cidades brasileiras, incluindo Campo Grande. Em Mato Grosso do Sul, já são 39 casos de feminicídio em 2025, índice que preocupa movimentos sociais e autoridades.
Apoio dos parlamentares
A fala de Gleice motivou manifestações de solidariedade de vários deputados.
Pedro Kemp (PT) relacionou o ataque ao cenário de violência contra mulheres no país e defendeu ações educativas contra o machismo.
Lia Nogueira (PSDB) ressaltou que “internet não é terra sem lei” e cobrou responsabilização de autores de ameaças.
Zeca do PT lembrou políticas pioneiras de proteção às mulheres criadas em gestões anteriores.
Professor Rinaldo (Podemos) destacou a importância da educação como mecanismo de prevenção e defendeu debate sobre punições mais severas.
Paulo Corrêa (PSDB) elogiou o rápido registro de ocorrência, enquanto Paulo Duarte (PSB) afirmou que enfrentar a violência política de gênero é responsabilidade de toda a sociedade.
O presidente da Assembleia, Gerson Claro (PP), garantiu que a Casa permanece unida no enfrentamento a violências contra mulheres e citou avanços institucionais no Estado.
Projeto de lei e novos casos de feminicídio
Durante a sessão, Gleice apresentou o projeto de lei que institui o “Protocolo Círculo do Cuidado”, voltado ao acolhimento de mulheres em situação de violência em espaços públicos e privados. A proposta busca identificar sinais de risco, oferecer escuta qualificada e garantir encaminhamento adequado — medidas consideradas essenciais para evitar feminicídios.
A parlamentar também apresentou moção de protesto diante de mais uma morte registrada no Estado. O deputado Paulo Corrêa apresentou moção de pesar à família de Ângela Nayhara Guimarães Gugel, de 53 anos, vítima de feminicídio nesta segunda-feira (8), em Campo Grande. A mulher foi morta a golpes de canivete pelo ex-companheiro, que não aceitava o fim do relacionamento. A filha do casal presenciou o crime e também ficou ferida.
O caso elevou para 39 o número de feminicídios registrados em 2025 em Mato Grosso do Sul, reforçando a urgência no debate sobre políticas de proteção.
Compromisso institucional
Ao encerrar sua fala, Gleice reafirmou que não será intimidada. “Nenhuma de nós pode ser silenciada. Não vamos recuar”, declarou. A Assembleia Legislativa reiterou posicionamento de repúdio a qualquer forma de violência política de gênero e reafirmou o compromisso com a defesa das mulheres sul-mato-grossenses.





