Presidente da Câmara, Hugo Motta, denuncia manobras da oposição durante obstrução em protesto pela prisão de Bolsonaro e defende respeito ao regimento interno

Por Karol Peralta
A sessão legislativa da Câmara dos Deputados na noite desta quarta-feira (6) foi marcada por forte tensão e atraso, em meio a uma série de protestos parlamentares liderados pela oposição. O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), abriu os trabalhos apenas por volta das 22h30, após resistência de um grupo de deputados que ocupava o plenário desde o dia anterior.
A obstrução foi motivada pela prisão domiciliar de Jair Bolsonaro e pelas demandas da oposição por uma anistia irrestrita aos envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro, além do pedido de impeachment do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
Em pronunciamento incisivo, Hugo Motta criticou duramente a atitude dos colegas parlamentares:
“O que aconteceu entre o dia de ontem e hoje com a obstrução dos trabalhos não faz bem a esta Casa. A oposição tem todo o direito de se manifestar, de expressar sua vontade. Mas tudo isso tem que ser feito obedecendo o nosso regimento interno e a nossa Constituição”, afirmou.
O presidente da Câmara enfatizou que atos como os ocorridos não podem se sobrepor ao funcionamento da instituição:
“Não vamos permitir que ações como essa sejam maiores que o Plenário ou do que a vontade desta Casa.”
A tentativa de obstrução no plenário dificultou inclusive a chegada de Hugo Motta à cadeira da presidência, especialmente por resistência dos deputados Marcel van Hattem (Novo-RS) e Marcos Pollon (PL-MS). Mais cedo, o Colégio de Líderes havia decidido pela realização de uma sessão presencial às 20h30, mas o acesso ao espaço foi dificultado pelos protestos.
A Secretaria-Geral da Mesa da Câmara divulgou nota reforçando que qualquer ação que impeça o funcionamento das atividades legislativas pode ser enquadrada como quebra de decoro parlamentar, com possibilidade de suspensão do mandato por até seis meses, conforme prevê o regimento interno da Câmara dos Deputados.
Ainda em sua fala, Hugo Motta fez um apelo ao diálogo e ao bom senso:
“Esta Casa deve priorizar as soluções para o país, e não projetos pessoais, eleitorais ou individuais. Sempre lutarei pelas nossas prerrogativas, mas o exercício do mandato exige responsabilidade e respeito às instituições”, declarou.
Criança no plenário gera nova polêmica
Outro episódio que chamou atenção durante a noite foi a presença da filha da deputada federal Júlia Zanatta (PL-SC) no plenário, um bebê de colo. O presidente da Comissão de Direitos Humanos, deputado Reimont (PT-RJ), apresentou denúncia ao Conselho Tutelar, alegando risco à criança em um ambiente de instabilidade e tensão.
Zanatta respondeu:
“Fui chamada pelos colegas e tive que vir com minha bebê. Será que vão tirar a gente à força?”, questionou, sentada na cadeira da presidência.
Senado também é afetado
Diante da escalada da crise, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), determinou que a sessão deliberativa desta quinta-feira (7) ocorra de forma remota. Segundo ele, a medida visa garantir o funcionamento da Casa diante da tentativa de paralisação promovida por parlamentares da oposição.
A tensão no Congresso evidencia o aprofundamento da polarização política e levanta questionamentos sobre os limites da atuação parlamentar diante de temas sensíveis como a prisão de Bolsonaro, a anistia dos golpistas e os conflitos com o Judiciário.