Relatório da American Farm Bureau aponta queda de 78% nas compras chinesas, enquanto Brasil e Argentina ocupam espaço no mercado internacional

Por Karol Peralta
A China parou de comprar soja dos Estados Unidos, abrindo espaço para que produtores brasileiros ganhem destaque nas exportações, aponta relatório da American Farm Bureau Federation, entidade agrícola centenária que representa 6 milhões de agricultores norte-americanos.
Entre janeiro e agosto de 2025, o volume embarcado de soja dos EUA para a China recuou quase 78% em comparação ao mesmo período de 2024, quando o país asiático respondia por quase metade das exportações norte-americanas. O recuo coincide com a escalada da guerra tarifária entre as duas maiores economias do mundo, com Pequim estabelecendo tarifas próximas de 20% sobre a soja americana.
“Durante junho, julho e agosto, os EUA praticamente não enviaram soja para a China e a China não comprou nenhuma soja da nova safra para o próximo ano comercial”, afirmou a economista Faith Parum, autora do relatório.
Brasil e outros países assumem espaço
A entidade destaca que a China não reduziu a compra de soja, mas mudou de fornecedores, privilegiando Brasil, Argentina e outros países. O relatório afirma:
“Mesmo quando os agricultores americanos produzem safras com preços competitivos, a China tem reduzido constantemente sua dependência dos Estados Unidos. As importações chinesas atingiram níveis recordes, mas a maior parte da demanda agora é atendida por concorrentes.”
Além da soja, outros produtos agrícolas americanos também perderam espaço no mercado chinês, refletindo um impacto mais amplo da guerra comercial.
Impactos para os EUA
Com base em dados do governo americano, a American Farm Bureau estima que as exportações agrícolas dos EUA para a China somarão US$ 17 bilhões em 2025, queda de 30% em relação a 2024 e mais de 50% frente a 2022. Em 2026, as vendas devem atingir apenas US$ 9 bilhões, menor nível desde a guerra comercial de 2018.
O relatório alerta que a menor demanda externa está pressionando os preços de milho, soja e trigo, reduzindo receitas, apesar de boas colheitas.
Pacote de ajuda aos agricultores
Diante da situação, o governo dos EUA projeta lançar um pacote de até US$ 15 bilhões para apoiar produtores rurais. O aumento de falências de fazendas no primeiro semestre atingiu o nível mais alto desde 2021.
Autoridades da Casa Branca afirmam que discussões interagências com os Departamentos de Agricultura e Tesouro estão em andamento para finalizar a ajuda. Entre as opções estudadas, estão medidas focadas em apoio direto aos produtores afetados e mitigação das perdas econômicas decorrentes da guerra tarifária.
“A situação da soja tornou-se um símbolo da dificuldade enfrentada pela economia agrícola norte-americana no primeiro ano do segundo mandato do presidente Trump, e a administração reconhece a urgência em resolvê-la”, apontam fontes do governo.
O cenário evidencia o protagonismo crescente do Brasil no mercado internacional de soja, reforçando a posição do país como fornecedor estratégico em meio a tensões comerciais globais.





