Encontro discutirá desafios, violações e políticas públicas para povos de religiões de matriz africana, com participação de lideranças, autoridades e movimentos sociais

Por Karol Peralta
A Câmara Municipal de Campo Grande recebe, na próxima segunda-feira (17), às 9h, uma audiência pública para discutir os direitos dos povos de religiões de matriz africana, em meio ao avanço das denúncias de intolerância religiosa e ao crescimento do número de praticantes dessas tradições no país.
Campo Grande sediará, nesta segunda-feira (17), às 9h, a audiência pública “Direitos dos Povos de Religiões de Matriz Africana – Saberes e Cultura: Um Grito de Resistência”. O encontro ocorre na Câmara Municipal e pretende reunir lideranças tradicionais, pesquisadores, entidades civis, representantes do poder público e movimentos sociais para debater os desafios que atingem povos de terreiro e buscar propostas para fortalecer políticas públicas de enfrentamento ao racismo religioso.
A audiência é organizada pela Comissão Permanente de Políticas e Direitos das Mulheres, de Cidadania e Direitos Humanos e conta com apoio de entidades como a Associação da Umbanda de Mato Grosso do Sul, FECAMS, Federação Ajô Nilê, Sotrayoruba e Instituto Yalodê. A proposta é ampliar o diálogo sobre temas como liberdade religiosa, acesso à educação, saúde, uso de espaços públicos, assistência social, moradia, cultura e preservação de territórios religiosos — áreas frequentemente vulneráveis a ataques e discriminações.
Os dados que embasam a discussão mostram a complexidade do cenário. O Censo 2022 registrou 1,85 milhão de pessoas adeptas da Umbanda e do Candomblé no Brasil, número mais que triplicado desde 2010. Apesar desse crescimento, os registros de violência continuam em alta: somente em 2024, o Disque 100 contabilizou 2.472 denúncias de intolerância religiosa, a maioria contra religiões de matriz africana. O contraste evidencia o distanciamento entre o aumento da visibilidade dessas tradições e a garantia de seus direitos básicos.
Para a vereadora Luiza Ribeiro, o debate vai além da esfera religiosa e envolve pautas estruturais da sociedade brasileira. “Discutir os direitos dos povos de matriz africicana não é apenas uma pauta religiosa. É uma pauta de direitos humanos, cidadania e enfrentamento ao racismo. O racismo religioso é real, violento e cotidiano. Muitas vezes, as pessoas não têm sequer o direito de exercer sua fé sem medo”, afirmou. Segundo ela, o encontro busca fortalecer caminhos para reconhecimento, proteção e respeito às comunidades tradicionais.
A mesa de discussão contará com lideranças de diferentes casas religiosas, especialistas em religiões afro-brasileiras, representantes do Ministério Público, Defensoria Pública, OAB/MS, entidades de promoção da igualdade racial, secretarias municipais e estaduais, além de conselhos de direitos e coletivos que atuam no enfrentamento ao racismo. A participação será aberta ao público.
O evento deve reunir povos de terreiro, pesquisadores, movimentos sociais, gestores públicos, juristas e cidadãos interessados no debate sobre diversidade religiosa, reafirmando a importância da construção coletiva de políticas que combatam o racismo religioso e valorizem os saberes ancestrais e a resistência das comunidades de matriz africana.





