Investigação aponta dois suspeitos pelo ataque armado em Pyelito Kue; indígena foi morto e outros quatro ficaram feridos durante ação violenta contra retomada reivindicada há 40 anos.

Por Karol Peralta
A Polícia Federal identificou dois suspeitos de participar do ataque armado contra um grupo de indígenas Guarani Kaiowá na retomada de Pyelito Kue, em Iguatemi (MS), ação que deixou um indígena morto e outros quatro feridos na madrugada de domingo (16).
A superintendência estadual da PF informou que um dos suspeitos foi reconhecido por uma das vítimas feridas por armas de fogo ou balas de borracha, sendo preso em flagrante. Segundo apurou a reportagem, o detido é de nacionalidade paraguaia, se declara indígena e já chegou a morar na própria ocupação alvo do ataque.
A PF ainda não divulgou a identidade dos dois envolvidos nem detalhou se o segundo suspeito foi detido, mas afirmou que chegou até eles após equipes especializadas apreenderem duas espingardas calibre 12, supostamente utilizadas por seguranças privados de uma fazenda da região. As armas passarão por perícia.
De acordo com o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), ao menos 20 homens fortemente armados invadiram a retomada de Pyelito Kue, localizada na Terra Indígena Iguatemipeguá I, pegando de surpresa famílias que dormiam, entre elas crianças e mulheres.
O indígena Vicente Fernandes Vilhalva, de 36 anos, foi atingido na cabeça e morreu no local. Testemunhas afirmam que os atiradores tentaram levar o corpo, mas foram impedidos por outros indígenas. Além da morte, quatro Guarani Kaiowá ficaram feridos, incluindo dois adolescentes e uma mulher.
As autoridades investigam ainda se a morte de um vigilante, funcionário de uma empresa de segurança privada que atua na região, tem relação com o ataque. Inicialmente, uma nota oficial do governo estadual relacionou o caso ao conflito, mas a empresa afirmou que o óbito ocorreu em circunstâncias diferentes, conforme consta no atestado de óbito.
Em nota, a empresa citou um “grave incidente ocorrido durante uma operação de escolta armada”. Já a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) cobrou investigação rigorosa e ações contra grupos de pistoleiros que atuam na região, afirmando que é “inaceitável que indígenas continuem perdendo suas vidas por defender seus territórios”.
A Funai destacou que a violência ocorre em meio à COP30, onde se discute o papel dos povos indígenas na mitigação climática. Segundo a instituição, as retomadas dos Guarani Kaiowá têm se intensificado para tentar interromper a pulverização de agrotóxicos, que estaria causando adoecimento e insegurança hídrica e alimentar.
A área de Pyelito Kue integra a TI Iguatemipeguá I, sobreposta à Fazenda Cachoeira. Os indígenas retomaram a região em 3 de novembro e afirmam aguardar há cerca de 40 anos pela conclusão do processo de demarcação.





