Iniciativa vai produzir 45 milhões de doses por ano e reduz dependência internacional; transferência de tecnologia inclui laboratórios públicos e privados
Por Karol Peralta
O Brasil deu um passo histórico na área da saúde pública. Após mais de duas décadas, o país retoma a produção nacional de insulina humana, essencial no tratamento do diabetes, com a entrega do primeiro lote ao Sistema Único de Saúde (SUS). O anúncio foi feito na última sexta-feira (11), na fábrica da Biomm, em Nova Lima (MG), durante cerimônia que contou com a presença do ministro da Saúde, Alexandre Padilha.
O novo ciclo de produção é resultado das Parcerias para o Desenvolvimento Produtivo (PDP) e da transferência de tecnologia da farmacêutica indiana Wockhardt para a empresa brasileira Biomm, em colaboração com a Fundação Ezequiel Dias (Funed). A expectativa é que, após a conclusão da transferência tecnológica, o Brasil passe a produzir cerca de 45 milhões de doses por ano, atendendo 50% da demanda do SUS por insulinas NPH e regular.
“Hoje é um dia histórico para a saúde pública brasileira. Depois de mais de duas décadas sem produzir insulina humana, o Brasil retoma essa fabricação com foco no SUS. Isso é soberania, segurança para os pacientes e geração de emprego e tecnologia”, destacou Padilha.
💉 Primeiras entregas e impacto no SUS
Durante o evento, foram entregues 207.385 unidades do medicamento, sendo 67.317 frascos de insulina regular e 140.068 de insulina NPH. Os contratos firmados preveem a entrega de 8,01 milhões de unidades (entre frascos e canetas) ao SUS entre 2025 e 2026, beneficiando cerca de 350 mil pessoas com diabetes.
Além de reduzir a dependência do mercado externo, a iniciativa garante estabilidade ao sistema público de saúde, sobretudo em contextos de crise, como a vivida durante a pandemia de Covid-19, quando houve risco de desabastecimento de insumos essenciais.
“Cerca de 10% da população brasileira tem diabetes. Parte dessas pessoas precisa de insulina. Essa retomada traz tranquilidade para o SUS e para as famílias que dependem do medicamento”, reforçou o ministro.
🔬 Transferência de tecnologia e soberania farmacêutica
A parceria entre instituições públicas e empresas privadas dentro das PDPs permite a transferência de tecnologia reversa, ou seja, o domínio progressivo das etapas de produção, desde a embalagem até a fabricação do Insumo Farmacêutico Ativo (IFA) no Brasil. Ao final do processo, a produção será 100% nacional.
O investimento total na aquisição da tecnologia foi de R$ 142 milhões, e representa um avanço estratégico dentro da Estratégia Nacional para o Desenvolvimento do Complexo Econômico-Industrial da Saúde, lançada pelo Governo Federal para fortalecer a autonomia do Brasil na produção de medicamentos, vacinas e equipamentos médicos.
💊 Produção de insulina glargina também foi aprovada
Além das insulinas NPH e regular, o Ministério da Saúde também aprovou uma PDP para produção nacional de insulina glargina – um tipo de insulina de ação prolongada usada no tratamento de diabetes tipo 1 e tipo 2. A nova parceria envolve a Bio-Manguinhos (Fiocruz), a Biomm e a farmacêutica chinesa Gan & Lee. A previsão inicial é de produzir 20 milhões de frascos, que também serão destinados à rede pública.
🩺 SUS oferece tratamento integral para diabetes
Atualmente, o SUS garante acesso gratuito ao diagnóstico e tratamento do diabetes, com acompanhamento feito na Atenção Primária por equipes multiprofissionais. Estão disponíveis quatro tipos de insulinas: NPH, regular, análogas de ação rápida e prolongada, além de medicamentos orais e injetáveis.
Com a retomada da produção nacional, o país avança na garantia do direito à saúde, com maior controle sobre seus insumos estratégicos e redução dos custos de importação.
