Nova planta em Goiana (PE) fortalece a produção nacional de albumina, imunoglobulina e fatores de coagulação, garantindo soberania e abastecimento do SUS.

Por Karol Peralta
O Brasil deu um passo histórico rumo à autossuficiência na produção de hemoderivados com a inauguração, nesta quinta-feira (14), da nova fábrica da Empresa Brasileira de Hemoderivados e Biotecnologia (Hemobrás), em Goiana (PE). A unidade fortalece a soberania nacional na produção de medicamentos essenciais para o Sistema Único de Saúde (SUS), marcando uma conquista decisiva para a independência do país no setor. O anúncio foi feito pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, acompanhado do ministro da Saúde, Alexandre Padilha.
Segundo o presidente, “Hoje, a Hemobrás é a maior fábrica de hemoderivados da América Latina, símbolo da nossa soberania e da capacidade do povo brasileiro. Um país soberano precisa cuidar da educação, garantir alimento e assegurar saúde para todos. A Hemobrás veio para ficar e para mostrar que o Brasil não depende de ninguém para produzir o que é essencial à vida”.
Resultado de investimento de R$ 1,9 bilhão, a planta industrial produzirá medicamentos de alto custo a partir do plasma humano, incluindo Albumina, Imunoglobulina e Fatores de Coagulação VIII e IX. Esses medicamentos são usados no tratamento de queimados graves, pacientes de UTIs, hemofilias, doenças raras e grandes cirurgias.
O ministro da Saúde destacou que a inauguração representa um marco de cinco pontos para o país, todos iniciados com a letra S: saúde, SUS, segurança, soberania e sociedade.
Com a entrada em operação, a Hemobrás amplia gradualmente a produção nacional, incorpora novos medicamentos e reforça a política pública de acesso universal e gratuito pelo SUS.
A presidente da Hemobrás, Ana Paula Menezes, afirmou que a fábrica é “uma fábrica de cidadania. O plasma doado voluntariamente pela população volta em forma de medicamentos essenciais, garantindo soberania, justiça social e autonomia na produção nacional”.
Atualmente, a Hemobrás abastece o SUS por meio de acordos de transferência de tecnologia. Em 2024, entregou um recorde de 552 mil frascos de hemoderivados e 870 milhões de Unidades Internacionais de medicamentos recombinantes. A nova fábrica permitirá que o Brasil produza, em quatro anos, até 500 mil litros de plasma fracionado por ano e seis tipos de medicamentos.
Qualificação e produção escalonada
Com a inauguração dos blocos B02 (fracionamento do plasma) e B03 (envase e liofilização), a Hemobrás inicia a qualificação de processos, etapa obrigatória no setor farmacêutico. A expectativa é que em 2026 a empresa comece a fracionar o plasma, etapa na qual são obtidas as proteínas que se tornam os medicamentos.
Ano após ano, a produção será ampliada, garantindo segurança sanitária, redução da dependência externa e tecnologias de ponta a serviço da população brasileira.
Como funciona
A Hemobrás, vinculada ao Ministério da Saúde, recolhe plasma excedente de 72 hemocentros públicos em todo o país. Esse insumo, antes processado no exterior, passa a ter maior produção nacional, impulsionando a indústria de biotecnologia e fortalecendo o Complexo Econômico-Industrial da Saúde.
A fábrica de medicamentos produzidos por biotecnologia, inaugurada em abril do ano passado no bloco B07, já produziu o primeiro lote do Hemo-8r (Fator VIII recombinante). Após aprovação da Anvisa e recebimento do certificado de Boas Práticas de Fabricação, a planta está apta a entregar aos SUS 300 mil frascos do Hemo-8r até o final de 2025. O próximo passo será o início da segunda etapa de produção de medicamentos, finalizando a última etapa em 2026 com a fabricação do IFA (insumo farmacêutico ativo).
A previsão é que até 2027, a Hemobrás realize a produção 100% nacional de ao menos seis hemoderivados — albumina, imunoglobulina, fator VIII, fator IX plasmáticos, complexo protrombínico e fator de Von Willebrand — beneficiando mais de 30 mil pessoas com coagulopatias, além de milhões de brasileiros que necessitam de albumina ou imunoglobulina para diversos tratamentos.