Relatório do Instituto Trata Brasil revela que o país perde 40% da água tratada, com índices mais graves no Norte e Nordeste e impactos diretos no abastecimento e no meio ambiente.

Por Karol Peralta
O Brasil desperdiça diariamente o equivalente a 6.346 piscinas olímpicas de água tratada, segundo o Estudo de Perdas de Água 2025, que aponta um cenário de forte ineficiência no saneamento e riscos crescentes de escassez hídrica.
O Brasil perde, todos os dias, um volume de água tratada equivalente a 6.346 piscinas olímpicas, antes mesmo que o recurso chegue às torneiras. O dado faz parte do Estudo de Perdas de Água 2025, divulgado pelo Instituto Trata Brasil (ITB) em parceria com a GO Associados, baseado em números do Sistema Nacional de Informações em Saneamento (SINISA, base 2023).
De acordo com o levantamento, o país desperdiçou 5,8 bilhões de metros cúbicos de água tratada em um ano, quantidade suficiente para abastecer cerca de 50 milhões de pessoas. As perdas totais representam 40,31% da água produzida, índice bem acima da meta de 25% estabelecida pela Portaria 490/2021, do Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional.
As regiões Norte (49,78%) e Nordeste (46,25%) concentram os piores indicadores. Estados como Alagoas (69,86%), Roraima (62,51%) e Acre (62,25%) desperdiçam mais da metade de toda a água distribuída. Já Goiás (25,68%), Distrito Federal (31,46%) e São Paulo (32,66%) apresentam os melhores resultados.
O estudo considera perda de água os volumes que desaparecem por vazamentos, falhas de medição ou consumos não autorizados. Somente as perdas físicas ultrapassam 3 bilhões de m³ por ano, suficientes para garantir abastecimento a 17,2 milhões de pessoas em comunidades vulneráveis por quase dois anos.
Além do impacto social, o desperdício gera custos elevados ao sistema de saneamento, como maior uso de produtos químicos, gasto intensivo de energia, manutenção constante e captação além do necessário em mananciais já pressionados pelas mudanças climáticas.
O efeito ambiental também é direto: quanto maior o desperdício, maior a necessidade de captar água adicional de rios e reservatórios, o que reduz a disponibilidade hídrica e aumenta os custos de mitigação. O relatório destaca que cerca de 34 milhões de brasileiros ainda não têm acesso à água tratada, amplificando desigualdades em um cenário de secas prolongadas, calor extremo e alterações no regime de chuvas.
Para Luana Pretto, presidente-executiva do Instituto Trata Brasil, os números apontam um quadro crítico: “Ainda vemos um progresso tímido na redução de perdas. Perdemos diariamente mais de 6,3 mil piscinas de água potável, um exemplo alarmante de ineficiência”, afirma.
Ela também ressalta que eventos climáticos extremos intensificam a pressão sobre o sistema hídrico: “Investir na modernização da infraestrutura e na redução de perdas é urgente, especialmente diante do cenário discutido na COP30.”
O estudo indica ainda grandes discrepâncias regionais. Os piores indicadores estão concentrados em áreas com menor capacidade de investimento e maior vulnerabilidade institucional. Para os autores, reduzir perdas é também uma ação de adaptação climática, essencial diante de eventos extremos cada vez mais frequentes.
Caso o Brasil reduzisse o índice atual de desperdício para a meta regulatória de 25%, o país economizaria 1,9 bilhão de m³ de água, volume suficiente para suprir o consumo anual de 31 milhões de pessoas. O ganho econômico estimado chega a R$ 17 bilhões até 2033, ampliando a resiliência dos municípios e a disponibilidade hídrica frente aos impactos das mudanças climáticas.





