Com nova tarifa imposta pelos Estados Unidos, governo e empresários intensificam esforços para abrir mercados na Europa, Ásia e Oriente Médio para produtos agrícolas e industriais brasileiros

Por Karol Peralta
Com a entrada em vigor da tarifa de 50% imposta pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros, a urgência em diversificar os destinos das exportações ganhou destaque tanto no setor produtivo quanto dentro do governo federal. O movimento, que já estava em curso, foi antecipado pela necessidade de reduzir a dependência de um único parceiro comercial.
A avaliação de empresários e autoridades é unânime: a diversificação já era necessária, mas o impacto direto da nova tarifa acelerou as ações em andamento.
“A intenção não é substituir o mercado americano, que é um dos maiores do mundo, mas sim expandir as opções para reduzir riscos”, avaliam fontes do governo ligadas ao Ministério da Agricultura.
🌎 Quase 400 novos mercados abertos desde 2023
Desde o início do terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o Ministério da Agricultura e Pecuária intensificou negociações com países da Ásia, Europa e Oriente Médio, resultando na abertura de quase 400 novos mercados para produtos brasileiros.
Esse esforço faz parte de uma estratégia de longo prazo que, agora, se torna central diante da retaliação tarifária aplicada pelos Estados Unidos.
🐟 Pescado: prioridade na reabertura do mercado europeu
Um dos setores mais impactados é o de pescados, que hoje tem cerca de 70% de suas exportações concentradas no mercado americano. A Abipesca (Associação Brasileira da Indústria de Pescados) tem pressionado o governo federal para priorizar a reabertura do mercado europeu, inativo para o Brasil desde 2018.
Em resposta, o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, informou que as negociações com o Reino Unido e a União Europeia estão avançadas e que a reabertura para os pescados brasileiros deve ocorrer em breve.
☕ Café: aposta em China e Índia
No setor cafeeiro, a aposta recai sobre a China e a Índia, dois mercados ainda em fase inicial de consumo de café, mas com enorme potencial de crescimento. Segundo o governo, a demanda por café tem apresentado crescimento constante em ambos os países.
No último sábado (2), a China autorizou 183 empresas brasileiras a exportarem café para o país, um avanço importante nas relações comerciais bilaterais.
🥩 Carne bovina: foco na Arábia Saudita, Vietnã e Singapura
Para a carne bovina, as autoridades brasileiras destacam o Oriente Médio como uma área estratégica. Em 2024, a Arábia Saudita importou US$ 487 milhões em carne bovina desossada congelada, sendo o Brasil o segundo maior fornecedor, com US$ 149 milhões exportados.
O país árabe já habilitou 140 estabelecimentos brasileiros, o maior número entre os países exportadores, e o governo estima um potencial adicional de US$ 54 milhões por ano apenas nesse mercado.
Além da Arábia Saudita, Vietnã e Singapura também figuram entre os novos destinos priorizados. O Vietnã abriu seu mercado à carne bovina brasileira em março e já habilitou dois frigoríficos nacionais para exportação.
🌐 Medidas antecipadas ajudaram a minimizar os impactos
Segundo representantes do Itamaraty e do Ministério da Agricultura, a estratégia de mapeamento de novos mercados começou antes mesmo da imposição da tarifa americana, o que facilitou a reação rápida.
O Brasil tem trabalhado para diversificar não apenas os destinos, mas também os produtos ofertados, buscando agregar valor e reduzir a vulnerabilidade externa diante de sanções ou medidas protecionistas.
🇧🇷 Comércio exterior brasileiro em transição
A política de diversificação de exportações é vista como um movimento estratégico de soberania comercial. Embora os Estados Unidos sigam como parceiro fundamental, o Brasil passa a construir uma rede mais ampla e resiliente de comércio exterior.
As próximas ações do governo devem incluir missões comerciais a países da África, Sudeste Asiático e Europa, além de acelerar acordos bilaterais que fortaleçam a presença de produtos brasileiros no mercado global.
“Estamos em uma nova fase. O Brasil quer ser reconhecido não apenas como exportador de commodities, mas como fornecedor confiável e sustentável para o mundo inteiro”, disse um técnico do Ministério da Agricultura.