Ato nacional reúne ministras e milhares de mulheres contra avanço dos feminicídios no Brasil

Sob chuva em Brasília, Levante Mulheres Vivas cobra ações urgentes contra a violência de gênero e expõe casos recentes que chocaram o país.

Por Karol Peralta

Após uma sequência de feminicídios que chocaram o país, milhares de mulheres participaram, neste domingo (7), do ato Levante Mulheres Vivas, realizado em várias capitais e com destaque para a mobilização em Brasília, que contou com a presença de seis ministras, da primeira-dama Janja Lula da Silva e de um ministro do governo federal. A manifestação, marcada por fortes chuvas, reforçou a urgência de políticas públicas para enfrentar a violência de gênero no Brasil.

O ato, convocado por dezenas de organizações da sociedade civil, ocorreu após uma onda de assassinatos que voltou a expor a fragilidade das mulheres diante da escalada de crimes motivados por gênero. Em Brasília, a concentração aconteceu na Torre de TV e reuniu lideranças políticas ao lado do público.

A ministra da Mulher, Márcia Lopes, defendeu maior presença feminina nos espaços de poder e reforçou a necessidade de responsabilização dos agressores. “Não vamos votar em homem que agrida ou ofenda mulheres. A representação feminina precisa chegar a 50% dos cargos políticos”, afirmou.

A ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, destacou que o enfrentamento à violência precisa incluir os homens. Para ela, a luta é “civilizatória” e exige engajamento de toda a sociedade. “Temos que unir forças para eliminar essa chaga histórica de subordinação das mulheres”, disse.

Em uma fala emocionada, a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, lembrou sua irmã, a vereadora Marielle Franco, assassinada em 2018. Ela citou ainda o assassinato de Mãe Bernadete, liderança quilombola morta no Recôncavo Baiano. “Estamos aqui para dizer que vamos permanecer vivas e ocupando espaços, queiram ou não”, declarou.

Mesmo em recuperação pós-cirúrgica, a ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, participou em cadeira de rodas. Ela chamou atenção para a invisibilidade da violência contra mulheres indígenas, que muitas vezes nem chegam a ser registradas oficialmente. “Elas continuam no anonimato e ainda nem estatística viraram”, lamentou.

A ministra da Ciência e Tecnologia, Luciana Santos, ressaltou que a desigualdade de gênero atravessa séculos e acrescentou que a violência tem raízes estruturais. “A luta é para garantir salário igual, creches e oportunidades para que mulheres avancem sem barreiras”, argumentou.

A primeira-dama Janja Lula da Silva pediu punições mais severas para feminicidas. Para ela, a impunidade estimula novos crimes. “Não é possível um homem matar uma mulher e, uma semana depois, estar na rua. Precisamos de penas duras para impedir essa repetição”, afirmou.

Também participou do ato a ministra da Gestão e Inovação, Esther Dweck.


Contexto: onda de feminicídios reacende mobilização nacional

A manifestação ocorre após uma sequência de crimes de grande repercussão. No final de novembro, Tainara Souza Santos teve as pernas mutiladas após ser atropelada e arrastada por cerca de um quilômetro. O motorista está preso.

Na mesma semana, duas funcionárias do Cefet-RJ foram mortas a tiros por um servidor da instituição, que em seguida tirou a própria vida.

Na última sexta-feira (5), o corpo carbonizado da cabo do Exército Maria de Lourdes Freire Matos, de 25 anos, foi encontrado em Brasília. O caso é investigado como feminicídio após o soldado Kelvin Barros da Silva confessar o assassinato.

Segundo o Mapa Nacional da Violência de Gênero, cerca de 3,7 milhões de brasileiras sofreram algum tipo de violência doméstica nos últimos 12 meses. Em 2024, 1.459 mulheres foram vítimas de feminicídio — média de quatro mortes por dia. Em 2025, o Brasil já registrou mais de 1.180 feminicídios, reforçando a gravidade do cenário.

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