
Relatório do Ipea e FBSP revela queda nas mortes violentas, mas alerta para homicídios ocultos, violência contra jovens e desigualdades raciais
Por Karol Peralta
O Brasil alcançou, em 2023, a menor taxa de homicídios em 11 anos, com 21,2 mortes para cada 100 mil habitantes, totalizando 45.747 homicídios no país. Os dados são do Atlas da Violência 2025, divulgado nesta segunda-feira (12), pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP). Em comparação com 2022, a queda foi de 2,3%.
O levantamento aponta que os estados do Sul, além de São Paulo, Minas Gerais e o Distrito Federal, apresentaram os menores índices de homicídios. Por outro lado, as maiores taxas continuam concentradas nas regiões Norte e Nordeste.
Segundo o Atlas, três fatores principais contribuíram para essa redução histórica: a transição demográfica com o envelhecimento da população, uma trégua na disputa entre as principais facções criminosas e a implementação de políticas de segurança pública mais eficazes, com foco em prevenção, inteligência e resultados concretos.
Homicídios ocultos ainda preocupam
Apesar da redução, o Atlas chama atenção para a persistência dos chamados homicídios ocultos — mortes violentas sem causa definida. Entre 2013 e 2023, cerca de 135 mil mortes foram classificadas como de causa indeterminada, o que equivale a 8,6% do total de óbitos por causas externas. Estima-se que, nesse período, 51.608 homicídios deixaram de ser oficialmente registrados.
Em resposta à repercussão do Atlas da Violência 2024, vinte e uma unidades da Federação conseguiram melhorar a qualidade dos dados e reduzir o número de homicídios ocultos entre 2022 e 2023.
Jovens continuam entre os principais alvos
Os jovens entre 15 e 29 anos seguem como o grupo mais afetado pela violência letal. Em 2023, 34% das mortes de jovens foram por homicídio. Eles representaram 47,8% do total de assassinatos no país — o que corresponde a uma média de 60 jovens mortos por dia. Desse total, 94% das vítimas eram do sexo masculino.
Os números também revelam que 2.124 crianças de 0 a 4 anos, 6.480 crianças de 5 a 14 anos e 90.399 adolescentes de 15 a 19 anos foram assassinados no país entre 2013 e 2023. As armas de fogo foram o principal instrumento utilizado nas mortes em todas as faixas etárias.
Desigualdade racial permanece alta
A violência contra a população negra permanece alarmante. Em 2023, o Brasil registrou 35.213 homicídios de pessoas negras (pretas e pardas), o que representa 2,7 vezes mais chances de uma pessoa negra ser assassinada em comparação a uma pessoa não negra. O aumento dessa desigualdade foi de 15,6% em relação a 2013.
Entre os povos indígenas, a taxa de homicídios foi de 22,8 por 100 mil habitantes em 2023 — superior à média nacional. Apesar disso, houve queda significativa na última década: de 62,9 em 2013 para 23,5 em 2023, o que representa uma redução de 62,6%.
Violência contra mulheres cresce
Na contramão da tendência de queda, os homicídios de mulheres aumentaram 2,5% entre 2022 e 2023. O Atlas destaca a heterogeneidade dos índices entre os estados, com destaque negativo para Roraima, que apresentou a maior taxa do país: 10,4 mortes por 100 mil mulheres.
As mulheres negras continuam sendo as principais vítimas: 68,2% dos homicídios femininos em 2023 foram de mulheres pretas ou pardas.
Violência no trânsito ganha espaço no relatório
Uma das novidades da edição 2025 foi a inclusão de dados sobre violência no trânsito. Entre 2010 e 2019, o Brasil registrou aproximadamente 392 mil mortes em acidentes de transporte terrestre. A taxa de mortalidade aumentou 2,3% no período, com destaque para o crescimento exponencial das mortes entre motociclistas — aumento de mais de dez vezes em três décadas.
Projeto “Vidas Protegidas” investe na prevenção
Em resposta aos desafios apresentados no relatório, o Governo Federal lançou o projeto “Vidas Protegidas: enfrentando a violência letal contra crianças e adolescentes”, com duração de 18 meses e investimento de cerca de US$ 291 mil. A iniciativa inclui oficinas formativas e reuniões técnicas em todos os estados, com foco em políticas públicas, prevenção e qualificação de dados.
O projeto é coordenado pelo Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC), em parceria com a ONU (UNODC e PNUD).