Primeiro túnel submerso da América Latina será construído no estuário de Santos, integrando a Baixada Santista com mais agilidade, segurança e sustentabilidade.

Por Karol Peralta
Desde os anos 1920, quando Santos já despontava como o maior porto da América Latina, a população da Baixada Santista convive com uma espera que atravessou gerações: a promessa de uma ligação definitiva com o Guarujá. Enquanto o porto se consolidava como motor do desenvolvimento nacional e a movimentação de cargas crescia ano a ano, a travessia por balsas, ainda que vital, mostrava-se insuficiente. Foi nesse contexto que nasceu a ideia de uma travessia seca entre as duas margens, um sonho que atravessaria o século XX sem se concretizar.
Tentativas frustradas ao longo do século
Na década de 1940, surgiu a proposta de uma ponte levadiça, capaz de permitir o trânsito sem comprometer a navegação. No entanto, as discussões técnicas e os altos custos acabaram adiando a execução. Já se falava, na época, que um túnel seria mais adequado, mas a complexidade técnica estava além das possibilidades.
Nos anos 1960 e 1980, novos estudos e promessas voltaram à cena, mas a falta de recursos e as crises econômicas frustraram as expectativas da população. A cada anúncio, renascia a esperança; a cada adiamento, crescia a frustração coletiva.
O avanço no século XXI
No início dos anos 2000, o projeto parecia próximo de sair do papel. Em 2010, um novo anúncio reacendeu o entusiasmo, mas barreiras ambientais e financeiras novamente travaram o processo. O túnel se transformou em símbolo de um sonho adiado, mas também em uma necessidade cada vez mais urgente.
Virada com o Novo PAC
O ponto de mudança ocorreu em 2024, quando o Governo Federal incluiu a obra como prioridade no Novo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). Em agosto de 2025, foi lançado o edital para a construção do primeiro túnel submerso da América Latina, com investimento estimado em R$ 6,8 bilhões.
O ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho, destacou a relevância da obra.
“É uma honra participar desse momento de uma construção que já completa 100 anos. Trata-se de uma obra que ficará para a história e que vai impactar a vida de cerca de 80 mil pessoas que cruzam diariamente esse canal. Um projeto que muitos dos nossos antepassados gostariam de ter visto realizado e que agora se torna realidade.”
Transformação e impacto regional
A obra terá 1,5 km de extensão, sendo 870 metros submersos, com duas faixas por sentido para veículos, corredor exclusivo para o VLT, além de acessos para pedestres e ciclistas. Estima-se que 80 mil pessoas utilizem diariamente a ligação, hoje limitada a balsas e catraias.
Mais do que mobilidade, o túnel promete impulsionar a integração urbana, o Porto de Santos e a competitividade internacional do complexo portuário.
Sustentabilidade e futuro
O projeto também prioriza soluções sustentáveis, com medidas de redução de emissões e incentivo à mobilidade limpa. O espaço dedicado a ciclistas e pedestres reforça o compromisso com novas formas de transporte.
Vozes da população
Para moradores, a obra significa mais do que praticidade.
A estudante Maria Eduarda destaca:
“É importante otimizar o tempo dos trabalhadores que se deslocam entre as cidades. O túnel vai trazer mais conforto e qualidade de vida.”
Já a autônoma Meire Rodrigues aponta o ganho em segurança:
“Eu morro de medo da travessia na barca, principalmente em dias de chuva. O túnel vai facilitar a vida de muita gente, seja de carro, bicicleta ou a pé.”
Uma nova era na Baixada Santista
Depois de cem anos de tentativas, a ligação entre Santos e Guarujá deixa de ser promessa para se tornar realidade. A obra une memória, inovação e desenvolvimento, encurtando distâncias e inaugurando uma nova era de mobilidade na Baixada Santista.