Agosto Lilás alerta para violência contra a mulher e ciclo silencioso de abuso no Brasil

Especialistas destacam abuso psicológico, financeiro e sexual e reforçam importância de rede de apoio e políticas públicas em Mato Grosso do Sul

Por Karol Peralta

No Brasil, milhares de mulheres vivem relacionamentos que, externamente, parecem estáveis, mas internamente escondem ciclos de controle, medo e dor. Muitas não apresentam sinais físicos de agressão, mas sofrem com marcas profundas de violência psicológica, financeira e sexual. É nesse contexto que o Agosto Lilás ganha força, mês dedicado a quebrar o silêncio e mostrar que a violência contra a mulher vai muito além da agressão física.

Segundo a psicóloga Simone Cougo, professora da Estácio, os sinais mais comuns envolvem violência psicológica, como ciúmes excessivo, críticas constantes, chantagens e controle sobre roupas, redes sociais e rotina da vítima. O isolamento social, no qual o agressor afasta a vítima de familiares e amigos, também é frequente.

“Em geral, a agressão começa de forma sutil e se intensifica gradualmente. O agressor alterna momentos de violência com gestos de carinho, criando confusão emocional e gerando o ciclo da violência. Estereótipos românticos, como considerar que ‘ciúmes é amor’, dificultam que a vítima perceba o controle como algo nocivo”, explica Simone.

Ciclo da violência

O chamado ciclo da violência ocorre em três fases:

  1. Tensão: surgem sinais de irritação, críticas e agressões verbais;
  2. Explosão: atos de violência psicológica, física, sexual ou patrimonial;
  3. Reconciliação ou “lua de mel”: o agressor pede desculpas, promete mudar e retoma demonstrações de afeto.

A vítima permanece na relação por dependência emocional, expectativa de mudança ou dependência financeira, muitas vezes agravada por pressão social ou familiar.

Consequências físicas e emocionais

Entre os impactos, Simone destaca transtornos de ansiedade e depressão, baixa autoestima, estresse pós-traumático, sentimento de culpa e vergonha. No longo prazo, pode haver dificuldade em estabelecer relações de confiança, problemas no trabalho, baixa produtividade, absenteísmo e doenças físicas relacionadas ao estresse crônico, como dores persistentes e problemas cardiovasculares.

O abuso financeiro também é devastador, com controle absoluto dos recursos do casal, gastos sem consentimento, ocultação de bens e até uso dos filhos como instrumento de chantagem. “O controle não é só sobre o dinheiro ou a rotina, é sobre a vida da vítima como um todo”, ressalta Simone.

Rede de apoio e canais de denúncia

Para romper o ciclo, a rede de apoio é fundamental, incluindo família, amigos, colegas de trabalho e instituições, oferecendo suporte emocional, orientação jurídica, acesso a abrigos e serviços sociais, além de auxiliar na elaboração de plano seguro de saída do relacionamento abusivo.

O Agosto Lilás reforça a importância de canais de denúncia, como a Central de Atendimento à Mulher – Ligue 180, disponível 24 horas, gratuitamente, incluindo informações sobre leis e direitos, serviços especializados e encaminhamento de denúncias. Também é possível contato via WhatsApp pelo número (61) 9610-0180. Em casos de risco iminente, o telefone 190 deve ser acionado.

Políticas públicas em Mato Grosso do Sul

No Mato Grosso do Sul, o programa Protege, lançado em agosto de 2025, oferece apoio social e financeiro às mulheres em situação de violência, incluindo:

  • Pagamento de um salário mínimo mensal por até um ano;
  • Auxílio de R$ 6 mil para mobiliar o lar;
  • Matrícula dos filhos em escolas próximas;
  • Capacitação profissional e encaminhamento ao mercado de trabalho;
  • Reestruturação das Casas da Mulher Brasileira e Salas Lilás.

Segundo Simone Cougo, a conscientização precisa ser contínua. “Campanhas como o Agosto Lilás ajudam a divulgar a Lei Maria da Penha, incentivar a denúncia e divulgar ONGs e coletivos de apoio. Mas é preciso ir além: educação sobre igualdade de gênero desde cedo, treinamentos para profissionais da saúde, educação e segurança pública, ampliação de canais de denúncia anônima e campanhas permanentes. Não basta falar sobre violência só em agosto”, conclui.

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