Ministra dos Povos Indígenas reforça protagonismo do Brasil na COP30, destaca preservação das terras indígenas e critica países ricos por não cumprirem metas do Acordo de Paris

Por Karol Peralta
A três meses da realização da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), que ocorrerá entre os dias 10 e 21 de novembro, em Belém do Pará, a ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, destacou a necessidade de cobrança internacional por compromissos climáticos, especialmente por parte dos países desenvolvidos que firmaram o Acordo de Paris na COP21, em 2015.
“Acho que não é chegar lá e cobrar do governo brasileiro. Afinal de contas, a COP30 é um evento global das Nações Unidas, composta por 198 países. E ali, esses líderes precisam assumir compromissos conjuntos”, afirmou a ministra, em entrevista ao programa Bom Dia, Ministra, do Canal Gov, da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), nesta quarta-feira (6).
🌿 Territórios indígenas como solução para o clima
Sônia Guajajara destacou que a principal proposta dos povos indígenas para a COP30 é o reconhecimento dos territórios tradicionais como uma solução real e eficaz para mitigar os efeitos das mudanças climáticas.
“Os territórios indígenas, comprovadamente, são os mais preservados, onde há maior biodiversidade. E essa proteção vem do próprio modo de vida dos povos indígenas. Queremos que essa proposta esteja nas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDC) dos países”, afirmou a ministra.
🌎 A COP da floresta, da inclusão e da implementação
Sobre os desafios logísticos do evento em Belém, como os altos custos de hospedagem, Guajajara descartou qualquer possibilidade de mudança de sede. Ela reconheceu as dificuldades de delegações de países em desenvolvimento, mas garantiu que a COP será realizada no Pará.
“Muitos países ainda em desenvolvimento, que não têm tantos recursos, estão com dificuldades de garantir a sua vinda. Mas não há risco de a COP sair de Belém do Pará”, afirmou.
A ministra reforçou o caráter histórico da COP30, destacando que será a primeira conferência do clima sediada na Amazônia. “Essa é a COP da floresta, da participação, da inclusão e, também, da implementação”, disse, alinhando seu discurso ao da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva.
👥 Formação de lideranças indígenas para atuação global
Como parte da preparação para o evento, o Ministério dos Povos Indígenas está promovendo o Ciclo Coparente, uma série de encontros regionais com lideranças indígenas em todas as regiões do Brasil. Os encontros já passaram pelo Nordeste, Sul, Sudeste e Centro-Oeste, e agora ocorrem na região amazônica, com eventos em Manaus, São Gabriel da Cachoeira e no sul do Amazonas.
Guajajara também mencionou que o governo visitará Roraima neste mês de agosto, para acompanhar as ações da Casa de Governo no Território Indígena Yanomami.
Outra frente importante é o programa Kuntari Katu, que prepara líderes indígenas para atuar nos espaços de negociação internacional, como as conferências do clima. “Nós os chamamos de nossos diplomatas indígenas. Eles estarão presentes na COP nas diversas instâncias, da cúpula dos povos à zona azul da ONU”, explicou a ministra.
A previsão, segundo Guajajara, é de que novas turmas sejam formadas ainda este ano, ampliando o número de representantes preparados para atuar em fóruns globais.
👩🦱 Conferência Nacional das Mulheres Indígenas
Durante a entrevista, a ministra também comentou sobre a 1ª Conferência Nacional das Mulheres Indígenas, que ocorre até esta quinta-feira (7), em Brasília. O evento visa fortalecer a participação feminina indígena em políticas públicas e debates climáticos.
Entre os resultados, a conferência definiu 50 propostas de políticas públicas voltadas às mulheres indígenas e sua atuação em pautas ambientais, territoriais e sociais.
🌐 Brasil na liderança climática global
Com a realização da COP30 na Amazônia, o Brasil assume uma posição de liderança no debate climático internacional, especialmente ao incorporar a visão dos povos originários como agentes ativos na proteção do meio ambiente.
A ministra Sônia Guajajara encerrou reforçando a urgência da ação conjunta: “Temos que focar, acreditar e apostar. Essa COP precisa dar certo.”