Mesmo após ordem do TRT para retorno parcial da frota, motoristas mantêm paralisação total; cidade caminha para maior greve do transporte coletivo em 31 anos

Por Karol Peralta
A greve do transporte coletivo em Campo Grande entra no terceiro dia nesta quarta-feira (17) após os motoristas decidirem manter a paralisação total, mesmo diante de decisão judicial que determinou o retorno escalonado da frota. A deliberação ocorreu em assembleia realizada em frente ao TRT-24, logo após audiência que elevou para R$ 200 mil a multa diária aplicada ao sindicato pelo descumprimento da ordem.
Mesmo após a determinação da Justiça do Trabalho para a retomada parcial do serviço, os motoristas do Consórcio Guaicurus optaram por manter 100% da greve, aprofundando a crise no transporte coletivo de Campo Grande. Com isso, a capital caminha para a maior paralisação em 31 anos, superando a última greve histórica, registrada durante a gestão do ex-prefeito Juvêncio César da Fonseca, que durou 72 horas.
A decisão foi tomada por maioria em assembleia realizada na escadaria do Tribunal Regional do Trabalho da 24ª Região (TRT-24), logo após audiência conduzida pelo desembargador César Palumbo Fernandes. Durante o encontro, chegou a ser sugerido pelo sindicato o retorno de 40% do efetivo, como forma de cumprir parcialmente a decisão judicial, mas a proposta foi rejeitada pelos trabalhadores.
Segundo o presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Transporte Coletivo e Urbano de Campo Grande (STTCU-CG), Demétrio Freitas, a escolha de manter a greve foi coletiva e motivada pelo atraso no pagamento de salários.
“Mesmo com a multa de R$ 200 mil, os trabalhadores decidiram continuar parados enquanto não receberem os valores em atraso”, afirmou.
Demétrio também destacou que a ausência de propostas por parte do Consórcio Guaicurus foi determinante para a continuidade do movimento. “Nenhuma proposta foi apresentada. A população sofre, mas o trabalhador também precisa receber”, disse.
Questionado sobre o pagamento da multa imposta pela Justiça, o dirigente afirmou que o tema ainda será debatido internamente pelo sindicato.
Consórcio reconhece dívida milionária
Pelo Consórcio Guaicurus, o presidente Themis Oliveira afirmou que as conversas com o poder público continuam, mas ressaltou que a decisão de manter a paralisação cabe exclusivamente aos motoristas. “A decisão é deles, eu não posso intervir”, declarou.
Themis confirmou que ainda há mais de R$ 1,3 milhão a serem quitados, referentes a 50% do salário de novembro, e disse que o consórcio depende de repasses da prefeitura para regularizar a situação. “Vamos continuar negociando o tempo inteiro”, afirmou.
Determinação judicial e escala de retorno
Durante a audiência, o desembargador do TRT-MS determinou que 70% da frota deveria voltar a circular nos horários de pico a partir das 6h, com escalas reduzidas ao longo do dia. O descumprimento da ordem resultou na elevação da multa para R$ 200 mil por dia.
A decisão, no entanto, não intimidou a categoria. Os motoristas deixaram o plenário ainda durante a audiência e, em seguida, confirmaram a manutenção da greve.
O juiz encerrou a audiência de conciliação sem acordo entre as partes. O advogado de defesa dos trabalhadores também solicitou que multas fossem aplicadas ao consórcio pelo atraso recorrente no pagamento dos salários.
O que motivou a greve
Os trabalhadores do Consórcio Guaicurus relatam atrasos salariais frequentes ao longo do segundo semestre de 2025. Em dezembro, a preocupação se intensificou devido ao pagamento do vale salarial e do 13º salário, cuja data-limite está prevista na legislação.
Sem garantias de quitação dos valores, os motoristas decidiram paralisar as atividades a partir da segunda-feira (15), deixando Campo Grande sem ônibus por dias consecutivos.





