Pressão por produtividade, comparação social e cobranças internas intensificam sintomas em dezembro

Por Karol Peralta
Dezembro chegou e, junto com as celebrações típicas, cresce também a incidência da chamada “dezembrite”, um estado emocional marcado por tristeza, nostalgia, irritabilidade e sensação de sobrecarga. Especialistas afirmam que o período é um dos que mais elevam a procura por apoio psicológico no país.

Dezembrite: quando o fim do ano vira gatilho emocional
Embora o mês seja associado a festas e metas concluídas, muitos brasileiros enfrentam um cenário oposto: aumento da ansiedade, depressão, frustrações acumuladas e dificuldade em lidar com a pressão simbólica do “encerramento do ciclo”.
Segundo o psicólogo cognitivo comportamental e neurocientista Jefferson Morel, dezembro é historicamente um dos meses com maior busca por atendimento. “Muitas pessoas nos procuram com crises de ansiedade e depressão, e em quem já tem diagnóstico de transtornos mentais observamos um aumento significativo de crises severas”, explica.
Morel afirma que o fim do ano funciona como um forte marcador psicológico. Expectativas não cumpridas, metas adiadas e comparações silenciosas aprofundam o mal-estar emocional. “O excesso de estímulos coloca o organismo em alerta contínuo. O cortisol aumenta, o sono perde qualidade e a memória de trabalho fica sobrecarregada. Isso gera irritabilidade, dificuldade de concentração e cansaço extremo”, detalha.

Redes sociais aumentam a pressão por felicidade
O neurocientista destaca que as redes sociais atuam como um amplificador da dezembrite. Postagens de retrospectivas, viagens, festas e conquistas reforçam um padrão idealizado de vida, quase sempre distante da realidade da maior parte das pessoas.
“Essa comparação silenciosa gera frustração e a sensação de que é preciso corresponder a um padrão irreal de felicidade”, afirma o especialista.
Fim de ano também reabre conflitos familiares
Para muitos, o reencontro familiar reacende conflitos antigos e convivências difíceis, gerando angústia, tensão e sensação de exaustão emocional.
Situações como divergências entre parentes, convivência forçada e lembranças de perdas podem agravar sintomas, especialmente entre pessoas que já lidam com transtornos mentais.

Como prevenir a ‘doença de dezembro’
Para Morel, enfrentar a dezembrite começa por quebrar o mito da felicidade perfeita.
“Ninguém é feliz o tempo todo. Essa euforia obrigatória das festas é, muitas vezes, artificial”, diz.
Ele recomenda estratégias simples para preservar a saúde mental no período:
- saber dizer não a convites em excesso
- identificar limites pessoais
- evitar ambientes que drenam energia
- priorizar encontros que tragam bem-estar
- reservar momentos de descanso ao longo da semana
Por fim, quem já sabe que costuma sofrer nesse período deve buscar acompanhamento profissional antes do agravamento dos sintomas. “Antecipar o cuidado é fundamental”, reforça o neurocientista.





