Anvisa dá parecer favorável ao imunizante do Instituto Butantan; vacina será integrada ao SUS e deve ampliar o acesso da população a partir de 2026.
Por Karol Peralta
A Anvisa aprovou, nesta quarta-feira (26), o parecer de segurança e eficácia da primeira vacina totalmente nacional contra a dengue, desenvolvida pelo Instituto Butantan. O aval marca um avanço histórico no enfrentamento da doença e abre caminho para a inclusão do imunizante no calendário nacional do SUS já em 2026.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) anunciou parecer favorável para o uso da vacina contra a dengue produzida pelo Instituto Butantan, o primeiro imunizante 100% nacional destinado à proteção contra a doença. Com a conclusão dessa etapa regulatória, o Ministério da Saúde iniciará o processo de incorporação da vacina ao Sistema Único de Saúde (SUS), com previsão de oferta em 2026, conforme a capacidade produtiva do laboratório.
Na próxima semana, o Ministério apresenta o tema a um comitê de especialistas do SUS, que definirá a estratégia de imunização e os públicos prioritários. Segundo o ministro Alexandre Padilha, a nova vacina permitirá uma estratégia nacional unificada contra a dengue. O imunizante foi desenvolvido em parceria com a empresa chinesa WuXi, ampliando a capacidade produtiva do Butantan.
O governo federal investe mais de R$ 10 bilhões por ano no Instituto Butantan, além de outros R$ 1,2 bilhão destinados à expansão da estrutura produtiva pelo Novo PAC Saúde. Atualmente, vacinas importadas são distribuídas para 2,7 mil municípios, com mais de 7,4 milhões de doses aplicadas em grupos prioritários. Para 2025, estão garantidas 9 milhões de doses do imunizante em uso, com esquema de duas aplicações para crianças e adolescentes de 10 a 14 anos.
Eficácia e segurança
A nova vacina utiliza tecnologia de vírus vivo atenuado, método seguro e amplamente adotado em outras imunizações. Ela apresentou eficácia de 74,7% contra dengue sintomática na faixa etária de 12 a 59 anos e 89% de proteção contra formas graves e com sinais de alarme, segundo publicação na revista The Lancet Infectious Diseases.
A indicação aprovada contempla pessoas entre 12 e 59 anos, com possibilidade de ampliação futura conforme novos estudos apresentados pelo Butantan.
Cooperação Brasil–China
O registro da vacina também resulta de uma parceria estratégica entre Brasil e China. Em missão oficial recente, o ministro Alexandre Padilha visitou a WuXi Vaccines, parceira do Butantan no desenvolvimento e produção em larga escala do imunizante. O acordo fortalece a estratégia brasileira de inovação em imunobiológicos, com transferência de tecnologia e desenvolvimento conjunto.
O imunizante protege contra os quatro sorotipos da dengue e será aplicado em dose única, o que representa um avanço significativo para o controle da doença no país.
Cenário epidemiológico
Mesmo com a redução de 75% nos casos de dengue em 2025, o Ministério da Saúde reforça a necessidade de manter o combate ao Aedes aegypti. Até outubro, o Brasil registrou 1,6 milhão de casos prováveis, com maior incidência em São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Goiás e Rio Grande do Sul.
Os óbitos também tiveram queda de 72% em comparação ao mesmo período de 2024, totalizando 1,6 mil. São Paulo concentra a maior parte das mortes, seguido por Paraná, Goiás, Rio Grande do Sul e Minas Gerais.
