Cruzamento industrial ganha novo impulso em MS com uso do Santa Gertrudis na pecuária intensiva

Fazenda Boa Vista encontra equilíbrio entre desempenho e rusticidade ao adotar genética Mangabeira em tricross com vacas F1

Por Karol Peralta

O cruzamento industrial vive um novo ciclo na pecuária brasileira, especialmente em Mato Grosso do Sul, onde a Fazenda Boa Vista, em Nova Andradina, encontrou no Santa Gertrudis uma solução para unir desempenho e rusticidade, combinação cada vez mais rara diante do avanço de raças taurinas mais especializadas.

A Fazenda Boa Vista enfrentava um desafio comum na pecuária intensiva: obter performance sem perder adaptação ao clima, especialmente em sistemas de ciclo curto. Segundo o gestor Douglas Rodrigues, há 12 anos à frente da propriedade, os tricross feitos com Angus, Bonsmara e Brahman apresentavam bons resultados até a desmama, mas parte dos animais perdia rendimento no confinamento devido ao excesso de sangue europeu.

A mudança começou quando a equipe passou a utilizar ultrassonografia de carcaça, priorizando indicadores como AOL (Área de Olho de Lombo), EGS (Espessura de Gordura Subcutânea) e marmoreio (MAR), características diretamente relacionadas ao rendimento e à qualidade da carne. A busca por maior consistência genética levou a fazenda até o trabalho da Mangabeira, em Sergipe, referência nacional há quase cinco décadas.

Pioneira na aplicação de ultrassonografia e única no país com um rebanho Santa Gertrudis 100% avaliado pelo software BIA, a Mangabeira forneceu o touro Justus para compor o tricross com vacas F1. O resultado chamou atenção.

Segundo Rodrigues, os bezerros nasceram com porte equilibrado, desenvolvimento acelerado e excelente conversão alimentar. “Abatemos com 15 a 16 meses, média de 20 arrobas, ótimo GMD e carcaças muito padronizadas. O Santa Gertrudis entregou exatamente o que faltava: performance sem perder rusticidade”, afirma.

A adaptação ao calor, ao manejo intensivo e à pressão de parasitas também foi decisiva. “É um animal de pelo curto, muito mais tolerante ao ambiente. Isso impacta diretamente no lucro”, reforça o gestor.


Três pilares de seleção: AOL, EGS e MAR

A zootecnista Liliane Cunha, diretora da DTG Brasil e doutora pela UNESP Botucatu, explica que o diferencial da Mangabeira está no equilíbrio entre os três pilares da avaliação por carcaça: AOL, que mede produtividade; EGS, relacionada à precocidade e terminação; e marmoreio, responsável pela qualidade e valor agregado da carne.

“Quando você seleciona de forma consistente para as três, consegue animais que crescem rápido, terminam cedo e entregam carne de qualidade mesmo em ambientes quentes e restritivos, como o Nordeste”, afirma.


Genética valorizada e leilão anual em dezembro

O trabalho levou quatro touros Mangabeira a centrais de inseminaçã, Choice, Fogo, Hurricane e Hibitionist, este último originado da prova de desempenho a pasto realizada pela própria fazenda. Com a expansão da demanda e a nova parceria no Mato Grosso, a Mangabeira realiza no dia 4 de dezembro seu leilão anual, com transmissão pelo canal da Central Leilões e pelo Lance Rural.

Para o gestor Gustavo Barretto, o objetivo é ampliar o acesso à genética adaptada ao clima tropical. “Nosso compromisso é democratizar uma genética capaz de produzir carne de qualidade em clima quente. O produtor consegue acelerar o ciclo sem perder adaptabilidade, o grande gargalo das raças especializadas”, diz.

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