Audiência pública na Câmara de Campo Grande debate avanços e desafios no combate ao racismo religioso

Lideranças de matriz africana e ameríndias denunciam ataques, pedem políticas públicas e reforçam urgência no enfrentamento à intolerância

Por Karol Peralta

A Câmara Municipal de Campo Grande reuniu lideranças das religiões de matriz africana e ameríndias para discutir direitos, políticas públicas e o combate ao racismo religioso, em uma audiência marcada por denúncias, reivindicações e apelos por proteção estatal.

O encontro, proposto pela vereadora Luiza Ribeiro (PT), começou com uma louvação aos orixás, gesto simbólico que reforçou a importância da presença do Povo do Axé em um espaço institucional. Representantes de terreiros, movimentos sociais, pesquisadores e integrantes do Ministério Público relataram casos de discriminação, violência e desrespeito religioso, apontando que a intolerância permanece como realidade cotidiana em Campo Grande.

Crescem denúncias de ataques e discriminações

Durante a audiência, lideranças relataram episódios que vão desde ataques a terreiros e recusa de atendimento profissional até casos envolvendo crianças discriminadas em escolas públicas. Para a vereadora, a Casa de Leis precisa assumir um papel mais ativo: “Essas situações precisam ser discutidas aqui. A intolerância religiosa é crime e deve ser enfrentada com políticas públicas”.

Uma das reivindicações apresentadas foi a criação de uma delegacia especializada para investigar crimes de intolerância religiosa, além da formação do Conselho Municipal das Religiões de Matriz Africana e a preservação de espaços sagrados da cidade.

Demandas por proteção e reconhecimento

Lideranças como o Bàbálórìṣà Augusto de Lógunẹ̀dẹ, do Instituto Yalodê, destacaram que o Povo do Axé enfrenta “perseguição e descaso”, reforçando a necessidade de instrumentos estatais que garantam segurança e direitos. O presidente da Fecams, Bàbálórìṣà Gaeta de Òṣàlùfọ̀n, chamou atenção para o aumento expressivo dos casos de violência: “Intolerância religiosa é crime, e políticas públicas precisam nos defender”.

O Bàbálórìṣà Deá Odé, representante das federações de terreiros no Estado, lembrou que a visibilidade da cultura afro-brasileira cresce, mas o acesso à informação ainda é limitado: “Muitos conhecem nossa estética, mas desconhecem nossa história e nossos direitos”.

A sacerdotisa da Umbanda Rayane Jarcem reforçou a importância da memória e da educação como ferramentas de combate ao preconceito.

Ministério Público aponta violações e confirma investigação

O Ministério Público Estadual também se posicionou. O promotor Douglas Silva Teixeira destacou que a liberdade religiosa é garantida pela Constituição e lembrou que denúncias devem ser registradas tanto na Capital quanto no interior. Já a promotora Paula Volpe informou que diversos casos envolvendo a gestão municipal já resultaram em ações e condenações.

Representantes de entidades e movimentos sociais criticaram a falta de políticas públicas continuadas. O presidente do Conselho Municipal de Direitos do Negro, Felipe Araújo de Souza, afirmou que houve “desmonte das estruturas que tratavam do combate ao racismo”.

Preservação de espaços sagrados é prioridade

Outro ponto recorrente foi o pedido de preservação da Praça do Preto Velho, considerada espaço de referência para as religiões de matriz africana em Campo Grande. José Luiz Mendes, da Associação da Umbanda de MS, lamentou o abandono e lembrou que existe uma emenda parlamentar destinada especificamente à revitalização do local, ainda não executada pela Prefeitura.

Debate reforça urgência do combate ao racismo religioso

Ao final, a audiência pública consolidou uma série de denúncias e reivindicações, reforçando a necessidade de políticas públicas que garantam dignidade, proteção e reconhecimento aos povos de matriz africana e ameríndias. Para as lideranças presentes, o enfrentamento ao racismo religioso precisa sair do discurso e se transformar em ações concretas no município.

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