Especialistas apontam falta de formação docente, materiais e políticas integradas como entraves para aplicar o tema de forma efetiva na educação básica

Por Karol Peralta
Com 76% das famílias brasileiras endividadas, especialistas defendem que a educação financeira deve ganhar espaço real nas escolas, mas reconhecem que a implantação do tema ainda esbarra em falta de formação docente, ausência de políticas integradas e dificuldades na gestão educacional.
A discussão sobre educação financeira ganha força em meio ao avanço do endividamento das famílias brasileiras, que chegou a 76,4% em 2025. A inadimplência atinge 28,6% dos lares, evidenciando um cenário econômico que pressiona o orçamento doméstico e amplia a vulnerabilidade financeira.
Para o professor Geraldo Luiz Silva, do curso de Ciências Contábeis da Estácio, o problema não se resume aos efeitos econômicos do momento. Ele explica que fatores como juros elevados, crédito restrito e inflação persistente contribuem para que famílias recorram ao crédito para manter o padrão de consumo, entrando em um ciclo difícil de romper.
BNCC prevê educação financeira, mas escolas ainda carecem de estrutura
Embora a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) já permita a integração da educação financeira em disciplinas como Matemática, Ciências Humanas e até Ensino Religioso, Silva afirma que a aplicação prática ainda é insuficiente.
Segundo ele, o país carece de formação continuada de professores, materiais pedagógicos adequados e gestão alinhada para garantir continuidade do trabalho nas escolas.
“A inserção do tema requer abordagem transversal, formação adequada de professores e alinhamento com as diretrizes nacionais. A BNCC permite a integração, mas é preciso investir em capacitação, materiais e gestão articulada”, explica.

Falta de planejamento e consumo impulsivo agravam problemas financeiros
Para além das dificuldades estruturais, o professor aponta que o desconhecimento sobre conceitos básicos — como orçamento, reserva de emergência, metas financeiras e consumo consciente — contribui para decisões tomadas por impulso.
Silva destaca que essa desorganização financeira impacta diretamente a vida pessoal e profissional. O estresse financeiro pode gerar conflitos familiares, piorar a saúde mental e reduzir a produtividade no trabalho.
“O estresse financeiro afeta a saúde mental e as relações pessoais, gerando vulnerabilidades emocionais, sociais e econômicas”, afirma.
Educação financeira como instrumento de transformação social
Para Geraldo Luiz Silva, a educação financeira deve ser entendida como uma ferramenta capaz de transformar realidades sociais e fortalecer a resiliência econômica das famílias.
“Mais do que ensinar a lidar com dinheiro, é uma forma de formar cidadãos conscientes, capazes de planejar o futuro e fortalecer a resiliência econômica da sociedade”, conclui.





