Durante encontro na Colômbia, presidente destacou que a América Latina deve manter-se como região de paz e alertou sobre riscos de retomar discursos de força e divisão política.

Por Karol Peralta
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu o multilateralismo e criticou o retorno das ameaças de intervenção militar na América Latina e no Caribe, durante a abertura da 4ª Cúpula da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) e da União Europeia (UE), neste domingo (9), em Santa Marta, na Colômbia.
Em seu discurso, Lula alertou que “a ameaça de uso da força militar voltou a fazer parte do cotidiano da América Latina e do Caribe”, classificando como “velhas manobras retóricas” as tentativas de justificar ações ilegais e unilaterais entre países.
“Somos uma região de paz e queremos permanecer em paz. Democracias não combatem o crime violando o direito internacional”, declarou o presidente.
Pressão dos Estados Unidos e cenário regional dividido
O encontro ocorre em meio à preocupação de governos latino-americanos com a ofensiva militar dos Estados Unidos contra supostos traficantes de drogas em águas internacionais do Caribe e do Pacífico, determinada pelo ex-presidente Donald Trump. Desde setembro, essas ações deixaram ao menos 70 mortos, incluindo um ataque recente que vitimou três pessoas.
Segundo Lula, a região voltou a estar “mais voltada para fora do que para si própria”, dividida por extremismos políticos, manipulação de informação e ações do crime organizado. Ele também criticou o excesso de cúpulas que “muitas vezes não saem do papel”, reforçando a necessidade de resultados concretos em políticas de cooperação regional.
Combate ao crime e segurança pública
Ao tratar da segurança pública, o presidente afirmou que “não existe solução mágica para acabar com a criminalidade”, e que o combate deve se concentrar em reprimir o crime organizado, estrangular seu financiamento e eliminar o tráfico de armas.
Lula destacou ações de cooperação internacional lideradas pelo Brasil, como o Comando Tripartite da Tríplice Fronteira com Argentina e Paraguai, e o Centro de Cooperação Policial Internacional da Amazônia, que reúne nove países sul-americanos.
COP30 e liderança ambiental do Brasil
Lula também aproveitou o discurso para destacar os avanços ambientais do Brasil e reforçar a importância da COP30, que começa nesta segunda-feira (10), em Belém (PA).
“A COP30, no coração da Amazônia, é uma oportunidade para a América Latina mostrar ao mundo que conservar as florestas é cuidar do futuro do planeta”, afirmou o presidente.
O chefe do Executivo ressaltou o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF) como “solução inovadora para que nossas florestas valham mais em pé do que derrubadas”, e defendeu a transição energética, com o uso de energias limpas em substituição aos combustíveis fósseis.
Defesa da igualdade de gênero na ONU
Em outro momento, Lula defendeu a presença de uma mulher latino-americana no cargo máximo das Nações Unidas.
“Apesar de representarem mais da metade da população mundial, as mulheres nunca exerceram a mais alta função das Nações Unidas. É chegada a hora de ter uma latino-americana no cargo de secretária-geral da ONU”, disse.
O atual secretário-geral, António Guterres, tem mandato até 2026. Entre os nomes cotados estão a ex-presidente do Chile Michelle Bachelet e a primeira-ministra de Barbados, Mia Mottley.
Ainda neste domingo, Lula deixou a Colômbia rumo a Belém, onde participará da abertura da COP30, que reunirá 194 países para discutir metas globais de redução de emissões de gases de efeito estufa.





