Iniciativa do Ministério do Meio Ambiente marca o início de um novo mercado de compensação ecológica e reconhecimento do valor econômico da preservação das florestas nativas

Por Karol Peralta
A iniciativa representa um marco histórico para a política ambiental brasileira, criando um instrumento econômico de incentivo à conservação das florestas e ao cumprimento das metas de regularização ambiental rural.
O Governo do Brasil, por meio do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), entregou nesta quinta-feira (30) as primeiras Cotas de Reserva Ambiental (CRAs) do país. Previstas no Código Florestal, as CRAs são títulos correspondentes a um hectare de vegetação nativa excedente, existente ou em recuperação, que podem ser usados para compensar áreas de Reserva Legal e também para Pagamentos por Serviços Ambientais (PSA).
De acordo com a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, o lançamento das CRAs reflete o compromisso do governo com novos modelos de desenvolvimento sustentável. “Hoje, para cada um de nós e para a humanidade, é um imperativo ético proteger a floresta, os recursos hídricos e a biodiversidade. Ter um instrumento como esse é reconhecer uma mudança em curso, que eu espero que seja vitoriosa”, afirmou.
O monitoramento das áreas contempladas pelas CRAs será feito pelos estados, com suporte técnico do Serviço Florestal Brasileiro (SFB). A estrutura de controle inclui imagens de satélite, alertas de mudança no uso da terra e um protocolo de mensuração e verificação (MRV), garantindo transparência e integridade ao processo.
🌱 Justiça Climática e Economia Verde
Marina Silva destacou que o instrumento também fortalece os mecanismos de justiça climática, ao reconhecer o valor econômico da conservação ambiental. “Quando estimulamos a proteção, estamos contribuindo para evitar que a mudança do clima se agrave. Isso é justo para quem preserva e também para os mais vulneráveis, que sofrem os impactos dos eventos extremos”, afirmou a ministra.
O diretor-geral do SFB, Garo Batmanian, explicou que cerca de 25,5 milhões de hectares possuem potencial de compensação via CRAs. Com base em uma média de R$ 500 por hectare/ano, o mercado pode movimentar R$ 12,75 bilhões anualmente. “Identificamos um potencial ainda maior, não só entre proprietários rurais que buscam regularização, mas também entre empresas interessadas em remunerar os serviços ambientais”, destacou.
🌳 Processo Inédito e Marco Político
A emissão, o registro e a negociação das CRAs seguem um processo inédito, coordenado pelo SFB por meio do Sistema de Cadastro Ambiental Rural (Sicar). Os títulos poderão ser registrados em plataformas financeiras autorizadas, como bolsas de valores e sistemas reconhecidos pelo Banco Central, o que abre espaço para um novo mercado verde no Brasil.
O ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira, ressaltou que o instrumento representa uma virada na política ambiental brasileira. “Reconstruímos ministérios e políticas destruídas no passado e agora lançamos ferramentas que remuneram quem mantém as florestas de pé. As CRAs são um instrumento importante para o futuro”, afirmou.
🌎 Primeiras CRAs e Simbolismo
As primeiras Cotas de Reserva Ambiental foram emitidas no estado do Rio de Janeiro, em Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs) localizadas em Nova Friburgo — as reservas Rio Bonito de Lumiar e Canto da Coruja. No total, foram criadas 98 CRAs, administradas pelo Instituto Estadual do Ambiente (Inea).
Para o diretor do Inea, Cleber Ferreira, o momento representa “a maturidade de um país que começa a reconhecer o mérito de quem conserva”. Já o proprietário das reservas, Bernardo Furrer, celebrou o marco como um “exercício de cidadania e um orgulho ambientalista”, destacando o valor da natureza protegida como sinônimo de saúde e qualidade de vida.
O evento ocorreu no auditório do MMA, com a presença da ministra Marina Silva, do ministro Paulo Teixeira, do diretor-geral do SFB, Garo Batmanian, e de representantes do Inea e do Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos.





