Após dia de caos, cidade volta ao estágio 1 de monitoramento. A megaoperação contra o Comando Vermelho expôs falhas graves na segurança pública do Estado e reacendeu o debate sobre o controle do crime organizado no Rio.

Por Karol Peralta
Após uma das ações policiais mais letais da história do Rio de Janeiro, que deixou 64 mortos e paralisou boa parte da cidade, o município amanheceu nesta quarta-feira (29) em situação de normalidade. O episódio escancarou a fragilidade do sistema de segurança pública e o poder de reação das facções criminosas, que transformaram dezenas de ruas em barricadas e zonas de fogo na capital fluminense.
A cidade do Rio de Janeiro amanheceu em situação de normalidade nesta quarta-feira (29), após o caos e a violência que marcaram a véspera. As forças de segurança do Estado realizaram uma operação contra o Comando Vermelho, que terminou com pelo menos 64 mortos, sendo considerada a mais letal da história fluminense.
Em retaliação, criminosos bloquearam 35 ruas em diversos pontos da cidade, utilizando veículos, latões de lixo e materiais em chamas para erguer barricadas. O cenário provocou medo, colapso no transporte e evidenciou mais uma vez a falta de controle do governo estadual sobre o avanço do crime organizado.
Segundo o Centro de Operações e Resiliência (COR), às 6h desta quarta-feira a capital retornou ao estágio 1 de monitoramento, o mais baixo numa escala de cinco, o que indica “ausência de ocorrências de grande impacto”. O estágio 2 havia sido acionado às 13h48 da terça-feira, em razão das interdições generalizadas e da paralisação parcial dos modais de transporte.
Durante a madrugada, todas as vias bloqueadas foram liberadas. A última, a autoestrada Grajaú-Jacarepaguá, que liga as zonas norte e oeste, foi desobstruída por volta das 2h45.
De acordo com o COR, o transporte público também voltou a operar normalmente nesta manhã. Ônibus, VLT, BRT, metrô, trens e barcas circulam sem restrições. Na terça, o cenário era oposto: mais de 200 linhas foram interrompidas ou desviadas e 71 coletivos chegaram a ser usados como barricadas pelos criminosos.
A tensão também se estendeu ao metrô e aos trens, onde o retorno antecipado da população no meio da tarde provocou superlotação nas estações. As concessionárias precisaram reforçar o serviço com carros extras para conter o fluxo.
Especialistas em segurança afirmam que o episódio expõe a falha estrutural da política de enfrentamento adotada pelo governo estadual. “O Rio vive um ciclo de operações pontuais que geram mais violência, mas não desarticulam as redes do crime. Falta inteligência e integração entre as forças”, aponta o sociólogo e pesquisador em segurança pública, Daniel Hirata.
O governo do Rio de Janeiro ainda não divulgou um balanço oficial com a identidade das vítimas nem detalhou quantos dos mortos seriam realmente integrantes do Comando Vermelho. Organizações de direitos humanos cobram transparência nas investigações e criticam a falta de protocolos que garantam a segurança da população civil durante operações de grande porte.





