Esposa de ex-procurador do INSS fica em silêncio na CPMI e é acusada de envolvimento em esquema de desvios

Amparada por habeas corpus do STF, Thaisa Hoffmann Jonasson evitou responder às perguntas da CPMI do INSS e é apontada como laranja do esquema que desviou milhões de reais de aposentados e pensionistas

Por Karol Peralta

A médica Thaisa Hoffmann Jonasson, esposa do ex-procurador-geral do INSS, Virgílio Antônio Ribeiro de Oliveira Filho, permaneceu em silêncio durante quase todo o depoimento prestado nesta quinta-feira (23) à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga fraudes e desvios de recursos do Instituto Nacional do Seguro Social. Amparada por um habeas corpus do Supremo Tribunal Federal (STF), ela é suspeita de atuar como laranja em um esquema que teria movimentado R$ 2 bilhões.

Durante a sessão da CPMI do INSS, realizada nesta quinta-feira (23) em Brasília, Thaisa Hoffmann Jonasson preferiu exercer o direito constitucional de permanecer em silêncio. A médica e empresária, dona das empresas Curitiba Consultoria e Centro Médico Vitacare, é apontada por parlamentares como beneficiária indireta do esquema de desvios de aposentadorias e pensões.

Amparada por um habeas corpus concedido pelo Supremo Tribunal Federal (STF), Thaisa recusou-se a responder perguntas que pudessem levar à autoincriminação. Sua advogada, Izabella Hernandez Borges, informou que a depoente não aceitaria o compromisso de dizer a verdade por estar formalmente investigada e por haver contra ela um pedido de prisão preventiva.

As investigações apontam que Thaisa Jonasson teria movimentado R$ 18 milhões em recursos provenientes do esquema, grande parte repassada pelo lobista Antônio Carlos Camilo Antunes, conhecido como Careca do INSS. Segundo o relator da CPMI, deputado Alfredo Gaspar (União-AL), o lobista teria movimentado R$ 2 bilhões em fraudes envolvendo associações e sindicatos.

De acordo com os documentos apresentados pela comissão, as empresas de Thaisa — Curitiba Consultoria e Centro Médico Vitacare — receberam quase R$ 11 milhões de Careca do INSS. Outra empresa ligada à médica, a THJ Consultoria, teria recebido R$ 3,5 milhões de outro núcleo do esquema, baseado em Sergipe.

As fraudes, segundo o relator, envolviam falsificação de autorizações de idosos, que eram indevidamente cadastrados como associados a entidades prestadoras de serviços. Com esses acordos, as mensalidades eram descontadas automaticamente dos benefícios previdenciários, sem o consentimento dos aposentados.

“É uma pena que a senhora saia desta CPMI como lavadora de dinheiro dos aposentados e pensionistas. A senhora perdeu uma grande oportunidade de mostrar que não recebeu propina para o seu marido, como procurador-geral do INSS”, afirmou o deputado Alfredo Gaspar.

Em um dos raros momentos em que respondeu às perguntas, Thaisa afirmou que os pagamentos recebidos de empresas ligadas ao lobista se referiam a serviços de pareceres médicos. “Sou médica endocrinologista e realizei pareceres técnicos. Vou entregar documentos que comprovam os serviços prestados desde 2022”, disse.

A médica explicou que seus relatórios envolviam orientações para melhora da qualidade de vida de idosos, como no tratamento da osteoporose e baixa massa muscular. “O meu objetivo é detalhar informações que ajudem o idoso a ter uma vida mais saudável, com alimentação e exercícios adequados”, justificou.

O relator também mencionou que o casal é acusado de negociar um imóvel de R$ 28 milhões em Balneário Camboriú (SC). O ex-procurador, segundo o deputado, teria adquirido ainda um Porsche e outros veículos de luxo após a Operação Sem Desconto, deflagrada em abril de 2025, que afastou Virgílio do cargo.

Para o presidente da CPMI, senador Carlos Viana (Podemos-MG), a postura de Thaisa foi calculada. “Ela tem o direito de ficar em silêncio, mas os fatos falam por si só. Um procurador do INSS e um imóvel de R$ 28 milhões no endereço mais caro de Camboriú são dados que revelam muito”, declarou.

Na tarde desta quinta-feira, a comissão ouvirá o depoimento do ex-procurador-geral Virgílio Oliveira Filho, acusado de receber R$ 11,9 milhões de empresas ligadas a associações sob investigação. A CPMI do INSS continua apurando a rede de fraudes, propinas e desvios que lesaram aposentados em todo o país.

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