Sem acordo no Congresso, governo norte-americano entra em shutdown e gera incertezas nos mercados internacionais, com reflexos diretos no dólar, nas commodities e nas empresas brasileiras.

Por Karol Peralta
O shutdown no governo dos Estados Unidos começou à meia-noite desta quarta-feira (1º), após o Congresso norte-americano não conseguir formar maioria para aprovar o orçamento do ano fiscal de 2026.
Com a paralisação, diversos departamentos e serviços públicos devem ser impactados, incluindo saúde, pesquisas, transportes e programas sociais. A economia americana deve sentir os efeitos diretos com a dispensa temporária de funcionários federais e a interrupção nos pagamentos daqueles que seguem em atividade.
Durante a última paralisação, no primeiro mandato de Donald Trump, os 35 dias de shutdown levaram a prejuízos de US$ 3 bilhões para a economia dos EUA, segundo o Escritório de Orçamento do Congresso.
Efeitos globais e reflexos no Brasil
O impacto não deve se limitar às fronteiras norte-americanas. O shutdown pode gerar efeitos em diferentes mercados, inclusive o brasileiro.
No câmbio, a expectativa inicial é de valorização do dólar. “O momento de incerteza tende a direcionar investimentos para ativos considerados mais seguros, como a moeda norte-americana”, explica Cristiane Quartaroli, economista-chefe do Ouribank.
Segundo ela, caso a paralisação seja interpretada como sinal de “desfuncionalidade política”, parte dos investidores pode buscar diversificação em outras moedas. “O real tende a sofrer num primeiro momento, mas o impacto pode ser moderado se houver fluxo positivo das exportações via preço das commodities”, avalia.
Já para Beto Saadia, diretor de investimentos da Nomos, a situação é desfavorável ao dólar no médio prazo. “Uma retração do PIB ocasionada pelo menor consumo interno, somada ao alto nível de endividamento, pode gerar uma fuga maior de capitais”, afirma.
O ambiente de crédito também preocupa empresas brasileiras. Richard Ionescu, CEO do Grupo IOX, avalia que uma eventual valorização do dólar, somada a juros globais elevados, encarece a captação. “Isso reduz a margem de manobra das companhias e aumenta a seletividade dos investidores. Por outro lado, reforça a atratividade de instrumentos como os FIDCs, que oferecem previsibilidade e proteção em meio à incerteza internacional”, destaca.
Impacto direto nos EUA
Para a estrategista-chefe da Nomad, Paula Zogbi, o shutdown é um evento “relativamente comum” nos Estados Unidos, mas desta vez há um agravante: a suspensão do relatório de empregos de setembro.
“Com a paralisação, os dados podem ser adiados, deixando o Federal Reserve temporariamente no escuro a respeito da variável que justificou o primeiro corte de juros de 2025: a desaceleração do mercado de trabalho”, explica Zogbi.
Na avaliação dela, a ausência desses indicadores pode gerar realização de lucros recentes em Wall Street e levar à queda nas Bolsas de Nova York.
Além disso, a continuidade do shutdown pode afetar o consumo interno. A economista Andressa Durão, do ASA, lembra que “os gastos de funcionários públicos são reduzidos durante a paralisação, já que eles seguram compras e investimentos até receberem salários”.
Estudos apontam que a economia dos EUA perde, em média, 0,1% do PIB por semana em períodos de shutdown.
Incerteza à frente
Com impactos internos e externos, o shutdown amplia a percepção de instabilidade política nos Estados Unidos. Enquanto o Congresso segue dividido sobre o orçamento, mercados globais, investidores e governos estrangeiros monitoram de perto os desdobramentos da paralisação.





