Monitor do PIB da FGV aponta desaceleração do crescimento e efeitos de juros altos sobre consumo e indústria

Por Karol Peralta
A economia brasileira cresceu 0,5% na passagem do primeiro para o segundo trimestre de 2025, segundo estimativas do Monitor do Produto Interno Bruto (PIB), estudo mensal do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getulio Vargas (FGV) divulgado nesta segunda-feira (18), no Rio de Janeiro.
O resultado indica desaceleração, uma vez que no primeiro trimestre o crescimento havia sido de 1,3%. Na passagem de maio para junho, a expansão também foi de 0,5%, considerando dados dessazonalizados, ou seja, ajustados para eliminar efeitos típicos do calendário, como diferenças no número de dias úteis.
O estudo estima que a economia brasileira cresceu 2,4% no segundo trimestre em relação ao mesmo período de 2024. No acumulado de 12 meses, a expansão é de 3,2%, e o PIB do primeiro semestre é estimado em R$ 6,109 trilhões.
Freio dos juros altos e desempenho setorial
A economista Juliana Trece, do Ibre, explicou que o crescimento no segundo trimestre foi impulsionado pelos setores de serviços e indústria. “Nos serviços, o crescimento foi disseminado na maior parte das atividades. Na indústria, o desempenho positivo concentrou-se na atividade extrativa, evidenciando maior fragilidade do setor”, afirmou.
Segundo Trece, a desaceleração se deve à ausência da forte contribuição da agropecuária verificada no primeiro trimestre e ao efeito defasado dos juros elevados sobre a atividade econômica. O consumo das famílias, apesar de crescer, apresenta tendência declinante desde o fim de 2024: 3,7% no 4º trimestre de 2024; 2,6% no 1º trimestre de 2025; e 1,5% no 2º trimestre.
Por que os juros estão altos
A escalada da taxa Selic começou em setembro de 2024, saindo de 10,5% ao ano e alcançando os atuais 15%, maior nível desde julho de 2006 (15,25%). A Selic, definida pelo Copom do Banco Central a cada 45 dias, é a principal ferramenta para controlar a inflação, cuja meta anual é 3% com tolerância de 1,5 ponto percentual. Desde setembro de 2024, o IPCA está acima do teto da meta (4,5%).
Juros altos tornam empréstimos mais caros e desestimulam investimentos, freando o crescimento econômico, impactando emprego e renda. Segundo o Banco Central, os efeitos da Selic sobre a inflação levam de seis a nove meses para se tornarem significativos, coincidindo com a desaceleração observada pelo Monitor do PIB.
PIB oficial e indicadores complementares
O Monitor do PIB serve como prévia da economia brasileira. O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), também divulgado nesta segunda-feira, apontou expansão de 0,3% no 2º trimestre, com crescimento de 3,9% em 12 meses.
O resultado oficial do PIB trimestral será divulgado pelo IBGE em 2 de setembro de 2025.