Em entrevista à CNN, presidente Lula critica taxação de 50% dos EUA sobre produtos brasileiros, destaca soberania nacional e prega multilateralismo nas relações internacionais

Por Karol Peralta
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta quinta-feira (17), em entrevista à jornalista Christiane Amanpour, da CNN Internacional, que o Brasil não aceitará imposições dos Estados Unidos sobre tarifas comerciais e reforçou que o caminho para solucionar o impasse passa pelo diálogo e pela negociação.
A entrevista ocorre em meio ao anúncio de tarifas de 50% aplicadas pelo governo norte-americano sobre produtos brasileiros. Lula classificou a medida como uma “surpresa” e destacou que o Brasil vinha negociando com os Estados Unidos desde março deste ano.
“O Brasil é um aliado histórico dos Estados Unidos. O Brasil preza a relação econômica entre os dois países. Mas o Brasil não aceita imposição. O Brasil aceita negociação”, afirmou o presidente.
Críticas à postura americana
Lula criticou a forma como a decisão foi comunicada, sem resposta oficial às propostas encaminhadas pelo governo brasileiro após diversas rodadas de negociação.
“Foi um equívoco. A carta [do governo americano] está cheia de inverdades. Primeiro, aqui no Brasil a Justiça é independente. Segundo, o déficit comercial alegado não é real. Nos últimos 15 anos, os Estados Unidos tiveram superávit de US$ 410 bilhões em relação ao Brasil”, apontou.
Opções para o Brasil
Segundo o presidente, o Brasil continuará tentando resolver a questão pela via diplomática, mas não descarta recorrer à Organização Mundial do Comércio (OMC) ou aplicar a chamada Lei da Reciprocidade aprovada pelo Congresso.
“Vamos utilizar todas as palavras do dicionário tentando negociar. Se não der certo, recorreremos à OMC, sozinhos ou com um grupo de países.”
Defesa da soberania e do multilateralismo
Lula reforçou que respeita a democracia americana e seus líderes, mas afirmou que é preciso equilíbrio nas relações internacionais.
“Eu não vejo o Trump como presidente de direita. Eu vejo como presidente dos EUA. Mas ninguém quer ser refém dos Estados Unidos.”
Além disso, o presidente destacou que, em apenas dois anos e meio de governo, o Brasil abriu 379 novos mercados internacionais e continuará buscando acordos com a União Europeia, países do ASEAN e parceiros da América Latina.
BRICS e governança global
Lula também falou sobre o papel do BRICS, destacando a importância de fortalecer as trocas comerciais entre os países-membros e ampliar o protagonismo do Sul Global no cenário internacional.
“O BRICS não foi criado para brigar com o Norte. Foi criado para que os iguais discutam seus problemas de forma pacífica e equilibrada.”
Ele criticou a atuação dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU e defendeu uma reforma na governança global com inclusão de países da América Latina, África, Oriente Médio, além de Alemanha, Japão e Índia.
Meio ambiente e paz internacional
O presidente reafirmou o compromisso do Brasil com a agenda climática e destacou a redução de 50% no desmatamento da Amazônia. Lula também convidou o ex-presidente Donald Trump para participar da COP30, que será realizada no Pará, em 2025.
“Espero que o Trump vá à COP30. Assim ele conhecerá a Amazônia e veremos quem está falando a verdade sobre o clima.”
Sobre os conflitos na Ucrânia e em Gaza, Lula defendeu uma atuação mais firme da ONU e criticou líderes que desrespeitam acordos internacionais.
“O Brasil quer paz. Não quer alimentar guerras. Quer negociar. Essa deve ser a mensagem que os Estados Unidos escutem do Brasil.”
Com um discurso firme, Lula buscou reforçar a imagem do Brasil como país soberano, pacificador e ativo no cenário internacional, disposto ao diálogo, mas sem abrir mão de seus interesses estratégicos.