
Em discurso no Fórum Econômico Brasil-Índia, presidente destaca acordos em bioenergia, digitalização, aviação, saúde e comércio bilateral
Por Karol Peralta
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu, nesta segunda-feira (7), uma maior integração econômica e tecnológica entre Brasil e Índia, durante o Fórum Econômico Brasil-Índia, realizado no Rio de Janeiro. Como não pôde comparecer ao encerramento do evento, Lula teve seu discurso lido pelo secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Márcio Elias Rosa.
A cerimônia integra a visita de Estado do primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, ao Brasil. Segundo Lula, a cooperação entre os dois países é estratégica diante do cenário global de protecionismo e guerras tarifárias.
“Somos duas das dez maiores economias do mundo, com mercados em expansão e empresários inovadores. Mas nosso comércio ainda não reflete esse potencial”, pontuou o presidente.
Bioenergia e comércio bilateral
Lula destacou a parceria na Aliança Global para Biocombustíveis, lembrando que a Índia tem o mercado de bioenergia que mais cresce no mundo, enquanto o Brasil é pioneiro em motores flex e mistura significativa de etanol e biodiesel nos combustíveis.
“O memorando que será assinado em Brasília vai reforçar nossas capacidades em energias renováveis”, afirmou Lula.
Segundo ele, a ampliação do Acordo Mercosul-Índia, em vigor desde 2009, será prioridade da presidência brasileira do bloco neste semestre. Em 2024, o intercâmbio comercial entre os dois países foi de apenas US$ 12 bilhões.
Tecnologia, agricultura e defesa
Lula também destacou a relevância da cooperação em tecnologias digitais públicas, que podem melhorar a prestação de serviços e aumentar a segurança nos negócios.
Na agricultura, o presidente lembrou que 90% do rebanho zebuíno brasileiro veio da cooperação com a Índia, especialmente em melhoramento genético. O novo acordo entre a Embrapa e o Conselho Indiano de Pesquisa Agrícola deve ampliar projetos de inovação alimentar.
Na área de defesa e aviação, a abertura de uma subsidiária da Embraer em Nova Delhi foi citada como marco da aproximação. Lula destacou a aeronave KC-390 como exemplo de tecnologia brasileira de ponta com potencial de cooperação industrial com a Índia.
Saúde e transição energética
A saúde também foi apontada como setor-chave. A Índia é fornecedora estratégica de insumos farmacêuticos ao Brasil. Durante a pandemia, o país foi essencial no fornecimento de materiais. Lula comemorou a retomada da produção nacional de insulina, viabilizada por acordo entre a brasileira Bion e a indiana Wockhardt.
Na transição energética, o Brasil e a Índia já são vistos como líderes globais. O presidente destacou que os dois países devem chegar juntos à COP30, fortalecendo o protagonismo do sul global. A candidatura da Índia à COP33 também foi apoiada pelo Brasil.
Cooperação empresarial e laços culturais
Lula celebrou a criação de um conselho empresarial bilateral e ressaltou o potencial de novos negócios entre as cadeias produtivas dos dois países.
“Que o simbolismo do Raksha Bandhan — tradição indiana que celebra o vínculo entre irmãos — nos inspire a aprofundar os laços que já existem”, concluiu o presidente.
Amanhã (8), Lula receberá oficialmente o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, em Brasília. No dia seguinte (9), será a vez do presidente da Indonésia, Prabowo Subianto, visitar o país, fortalecendo a agenda de cooperação do Brasil com potências emergentes.