
IBGE revela queda histórica na taxa de fecundidade, aumento da imigração internacional e mudanças inéditas nos fluxos migratórios internos do país
Por Karol Peralta
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou nesta sexta-feira (27) os dados detalhados do Censo Demográfico de 2022, que revela mudanças significativas na estrutura populacional do Brasil. Entre os destaques estão a queda histórica na taxa de fecundidade, o aumento na imigração internacional e, pela primeira vez desde 1991, o saldo migratório negativo do estado de São Paulo.
Fecundidade em queda e famílias menores
Em 1960, a Taxa de Fecundidade Total (TFT) era de 6,28 filhos por mulher. Em 2022, caiu para 1,55 filho por mulher, uma redução de mais de 75%. Essa queda acompanha uma tendência global de envelhecimento populacional e reflete mudanças nos padrões culturais, econômicos e sociais das famílias brasileiras.
Outro dado importante é o aumento da idade média para ter filhos, que passou de 26,3 anos em 2000 para 28,1 anos em 2022. O Distrito Federal teve a maior idade média de fecundidade (29,3 anos), enquanto o Pará apresentou a mais baixa (26,8 anos).
Além disso, o número de mulheres que chegam ao fim da idade fértil sem filhos subiu de 10% (em 2000) para 16,1% em 2022. Essa tendência é mais forte em estados como o Rio de Janeiro, onde 21% das mulheres entre 50 e 59 anos não tiveram filhos, e menos presente em estados como Tocantins (11,8%).
Diferenças por raça, escolaridade e religião
A TFT também varia significativamente conforme raça, escolaridade e religião. Em 2022, a maior taxa foi entre mulheres indígenas (2,84) e pardas (1,68). As mulheres brancas apresentaram a menor taxa (1,35), assim como as que têm ensino superior completo (1,19). Entre os grupos religiosos, as mulheres espíritas registraram a menor TFT: 1,01 filho por mulher.
Imigração em alta após seis décadas
Pela primeira vez desde 1960, o Brasil voltou a registrar aumento no número de imigrantes internacionais. A população de residentes estrangeiros no país passou de 592 mil em 2010 para 1 milhão em 2022 — um crescimento de 70,3%, alcançando o maior volume desde 1980.
Esse avanço é impulsionado principalmente pela chegada de latino-americanos, com destaque para venezuelanos (272 mil). A população estrangeira nascida na América Latina saltou de 183 mil (em 2010) para 646 mil em 2022, representando 72% dos imigrantes no país. Em contraste, a presença de europeus e norte-americanos diminuiu significativamente no mesmo período.
Entre os imigrantes, 399 mil chegaram ao Brasil entre 2018 e 2022 — a maior entrada registrada nos últimos censos.
Mudanças na migração interna
O Censo também trouxe informações relevantes sobre os deslocamentos populacionais internos. Dos 19,2 milhões de brasileiros que vivem fora de sua região de nascimento, 10,4 milhões vieram do Nordeste, sendo que 6,8 milhões foram para o Sudeste — principalmente para os estados de São Paulo e Rio de Janeiro.
No entanto, os dados de 2022 revelam uma mudança histórica nos fluxos migratórios. Pela primeira vez desde 1991, o estado de São Paulo registrou saldo migratório negativo: perdeu 90 mil pessoas a mais do que recebeu, com uma taxa líquida de -0,20%. Ainda assim, o estado continua sendo o principal polo migratório do país, com 736 mil entradas e 826 mil saídas.
Por outro lado, Santa Catarina teve o maior ganho populacional no período (2017-2022), com 354 mil novos moradores — alta de 4,66%. A Região Sul como um todo teve o maior saldo positivo (362 mil), enquanto Rio de Janeiro (-165 mil) e o Distrito Federal (-99,5 mil) registraram os maiores saldos negativos.
Destaque para a Paraíba no Nordeste
No Nordeste, a Paraíba foi o único estado da região a apresentar saldo migratório positivo desde 1991, com 31 mil novos moradores. O crescimento se deve, principalmente, a fluxos migratórios vindos de São Paulo (22,3%) e Rio de Janeiro (20%), em busca de melhor qualidade de vida e retorno às origens.
Um novo retrato populacional do Brasil
Os dados do Censo 2022 consolidam um novo retrato demográfico do Brasil, marcado por famílias menores, envelhecimento populacional, crescimento da diversidade cultural com a chegada de novos imigrantes e reconfiguração nos fluxos migratórios internos. As mudanças revelam uma sociedade em transformação e reforçam a importância de políticas públicas voltadas ao planejamento urbano, à inclusão social e à adaptação das cidades aos novos perfis populacionais.