
Lucimar Maldonado e Aline Santos lideram iniciativas transformadoras em Campo Grande e Três Lagoas, com apoio do Sebrae/MS, impulsionando a economia criativa, o empoderamento feminino e a sustentabilidade social
Por Karol Peralta, especial para MS Pantanal News
Em Mato Grosso do Sul, o artesanato vai além da produção manual, ele representa resistência, identidade cultural, desenvolvimento social e, sobretudo, empoderamento feminino. Na linha de frente desse movimento estão mulheres como Lucimar Maldonado, da Associação Fibra Morena, em Campo Grande, e Aline Santos, da Aclams (Associação dos Artesãos e Arteiros de Três Lagoas), em Três Lagoas — duas líderes que unem tradição, empreendedorismo e coletividade com apoio técnico do Sebrae/MS.
Com histórias marcadas por superação e luta por autonomia, ambas transformaram suas realidades e a de dezenas de outras mulheres por meio do artesanato, que se consolida como ferramenta de emancipação, inclusão e liderança feminina.
A força da taboa e da coletividade

“Eu era assistente social, conheci a taboa, me apaixonei e fui estudar. Descobri que era possível transformar aquela planta em arte e em renda. Era como se ela tivesse me escolhido”, relembra Lucimar Maldonado, fundadora da Associação Fibra Morena, que hoje reúne cerca de 20 artesãos na capital sul-mato-grossense.
Com apoio do Sebrae, a associação passou a investir em branding, consultoria de design e marketing digital. “Eles nos ajudaram com tudo, desde a identidade visual até o e-commerce. Sem esse suporte, estaríamos na informalidade”, explica.

Lucimar vê no coletivo um instrumento poderoso de transformação e de protagonismo feminino:
“O artesanato muda vidas. Já vi mulheres que chegaram aqui sem autoestima, e hoje dão aulas, vendem seus produtos e têm orgulho de quem se tornaram. Isso é empoderamento.”
Bordado, superação e rede feminina

Em Três Lagoas, Aline Santos encontrou no bordado um caminho para vencer a depressão pós-parto. “Quando percebi que outras mulheres também precisavam de acolhimento, criei a Associação de Cultura e Lazer de Mulheres Sul-Mato-Grossenses – (Aclams). Começamos com cinco mulheres e hoje somos mais de 40”, relata.
Mais do que renda, a associação promove autoestima, autonomia e liderança feminina. Mulheres em situação de vulnerabilidade, muitas sem acesso à educação ou ao emprego formal, descobriram no artesanato uma nova identidade.
“Temos mulheres indígenas, ribeirinhas, quilombolas… Cada uma com sua história e talento. E todas aprendem, ensinam e crescem juntas. O artesanato é libertador”, destaca Aline.
Com a formalização e o apoio do Sebrae, a Aclams conquistou sede própria e espaço em feiras nacionais. “A formalização muda tudo. Abre portas para políticas públicas, crédito, mercado e visibilidade. Mas, acima de tudo, nos fortalece como mulheres”, afirma.


Artesanato, autonomia e empoderamento feminino

As mulheres artesãs desempenham um papel crucial na preservação da cultura e das tradições locais, além de contribuírem diretamente para o desenvolvimento econômico e social das comunidades. Em muitos territórios, o artesanato é a principal fonte de renda para famílias lideradas por mulheres e, por isso, tem impacto direto na redução da desigualdade de gênero.
A atividade artesanal permite a geração de renda sem abrir mão da convivência familiar, o que é essencial em regiões com escassez de empregos formais. Além disso, o trabalho em rede fortalece o senso de pertencimento e estimula a sororidade.
A formalização, por meio do registro como MEI, Microempresa (ME) ou Empresa de Pequeno Porte (EPP), é uma das chaves para o empoderamento feminino no setor. Ela oferece benefícios como emissão de notas fiscais, acesso a crédito, abertura de contas bancárias e participação em políticas públicas. Isso torna essas mulheres mais autônomas, visíveis e competitivas no mercado.
Segundo o Sistema de Informações Cadastrais do Artesanato Brasileiro (SICAB), 6.690 artesãos estão ativos em Mato Grosso do Sul (dados de 05/02/2025). Embora o número real seja maior, muitos ainda atuam de forma informal, especialmente mulheres.
O papel estratégico do Sebrae/MS

Para o Sebrae/MS, o fortalecimento do artesanato passa necessariamente pelo fortalecimento das mulheres. A analista técnica Daniela Muniz destaca que o setor integra as chamadas economias portadoras de futuro e deve ser olhado sob uma perspectiva de gênero:
“Empoderar a mulher artesã é garantir renda, visibilidade, autoestima e transformação social. Nosso papel é ser ponte entre tradição e mercado.”
O Sebrae/MS estrutura sua atuação em três pilares:
- Gestão e capacitação;
- Desenvolvimento de produto (design, qualidade, identidade);
- Acesso ao mercado (feiras, rodadas de negócios, vitrines virtuais).

Segundo Daniela, a formalização é fundamental para consolidar esse empoderamento:
“Sem formalização, essas mulheres ficam invisíveis. Com CNPJ, elas passam a ter nome, endereço, crédito e oportunidades. A informalidade impede que políticas públicas cheguem a quem mais precisa.”
Ações concretas e resultados transformadores
O Sebrae/MS é parceiro estratégico do setor. Em 2024, ações como participação em feiras e rodadas de negócios geraram mais de R$ 1,3 milhão em negócios. Em 2025, estão previstas participações em quatro grandes feiras nacionais.
Entre os destaques está a realização da 1ª Rodada Internacional de Negócios voltada ao artesanato, com a participação de 26 artesãos de 10 estados, dos quais 16 de Mato Grosso do Sul. A iniciativa conectou os participantes a compradores de países como Peru, Itália, França, Emirados Árabes e EUA.
Projeto “Mãos que Criam”: renda, identidade e protagonismo
No distrito de Nova Porto XV, em Bataguassu (MS), o projeto “Mãos que Criam” é símbolo de como o artesanato pode fortalecer comunidades e mulheres. A iniciativa é realizada pelo Sebrae e pela Suzano, com foco na capacitação técnica, gestão e geração de renda.
Hoje, cerca de 45 artesãos participam do projeto, que resultou na criação de uma associação local e de uma coleção exclusiva de peças orientada pelo designer Renato Imbroisi, referência nacional e internacional na valorização do artesanato.
O projeto culminou também na publicação de um catálogo profissional, intitulado “Mãos que Criam”, voltado à comercialização das peças e à ampliação da visibilidade das artesãs.
“A maioria das participantes são mulheres. Elas passaram a ver o próprio talento com outros olhos. Estão mais confiantes, independentes, realizadas. É disso que se trata o empoderamento feminino: reconhecer e valorizar seu próprio valor”, resume Daniela.

